Editor da BBC afastado por causa de investigação de escândalo de pedofilia

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Jimmy Saville morreu em 2011, mas há denúncias de casos ao longo de quatro décadas de carreira Adrian Dennis/AFP

O editor do programa Newsnight da BBC foi ontem afastado do cargo, porque a direcção da emissora pública britânica considerou que as justificações que Peter Rippon tinha dado para que não fosse transmitida uma investigação sobre os alegados abusos sexuais de adolescentes do ex-apresentador da BBC Jimmy Saville no seu programa foram "incorrectas ou incompletas".

Rippon é o primeiro responsável da BBC a ser tocado pelo escândalo de pedofilia que rebentou no início do mês, quando a ITV, um canal de televisão comercial, transmitiu um documentário em que denunciava o famoso apresentador de programas juvenis da BBC, com uma carreira de mais de quatro décadas, como um abusador e violador de menores em série.

Desde então, o inquérito aberto pela Scotland Yard já descobriu 200 potenciais vítimas de Sir Saville, que morreu em Outubro de 2011, aos 84 anos. O caso tornou-se um enorme embaraço para a BBC, pelo que parece revelar de negligência da emissora pública britânica, ao ter permitido que o apresentar continuasse nos seus quadros impunemente, e ainda mais a lidar directamente com jovens, durante décadas.

O editor do Newsnight recusou emitir uma reportagem sobre a face escondida de Saville, alegando, num blogue da BBC, no início do mês, que não havia "provas que alguém da escola Duncroft [um dos locais onde há queixas de violações contra Saville] soubesse ou devesse saber das acusações". "Não tínhamos provas contra a BBC." O conteúdo desse blogue foi posto em causa pela direcção da BBC, ao afastar Peter Rippon, e esperava-se que ontem à noite a BBC transmitisse outra investigação sobre o apresentador, no programa Panorama.

Jimmy Saville era conhecido pela actividade filantrópica - que lhe poderá ter servido de cobertura para abusar de adolescentes internadas em hospitais e escolas com os quais colaborava. Mas o documentário da ITV revelava também que os abusos aconteceram nas próprias instalações da BBC - e que em 1970-980 o assédio sexual era comum na emissora nacional britânica.

Esta versão tem sido confirmada por mulheres que lá trabalharam nessa altura, como a disc-jockey Liz Kershaw. Disse que, quando entrou na Radio 1 da BBC, em 1987, quando estava a trabalhar com um determinado colega, este lhe apalpava sempre o peito, quando estava no ar. Quando tentou queixar-se, não acreditaram e ainda lhe perguntaram: "Não gostas, és lésbica?"

Por outro lado, conta Kershaw, não era segredo o comportamento de Saville, que também trabalhava na Radio 1. "Havia rumores, havia piadas, era um segredo de polichinelo, toda a gente sabia sobre o Jimmy Saville e as meninas."

O recém-nomeado director-geral da BBC, George Entwistle, comparecerá hoje na Comissão de Cultura e Media do Parlamento, para responder a perguntas dos deputados sobre por que é que a reportagem sobre Saville não foi transmitida no programa Newsnight. Entwistle deverá falar-lhes dos dois inquéritos que lançou sobre as acusações de abusos sexuais na BBC. Um diz respeito à retirada do alinhamento do Newsnight da investigação de Liz Mackean sobre Saville e será liderado por Nick Pollard, ex-director da emissora rival da BBC Sky News. Esperam-se resultados em Dezembro.

O segundo inquérito será conduzido pela ex-juíza do Supremo Tribunal Janet Smith e debruçar-se-á sobre a cultura vigente na BBC durante os anos em que Saville lá trabalhou - na Primavera de 2013 deverá estar pronto.

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