Ébola: Serra Leoa termina três dias de um inédito recolher obrigatório

Medida sem precedentes para travar o surto da doença permitiu identificar 130 novos casos e sepultar mais de 60 corpos.

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Durante três dias, as ruas de cidades e aldeias da Serra Leoa estiveram desertas Umaru Fofana

A população da Serra Leoa regressou nesta segunda-feira à vida normal, após um inédito recolher obrigatório de três dias que as autoridades declararam um sucesso nos esforços para combater a propagação do ébola, vírus que só no país matou pelo menos 593 pessoas.

Ao todo, foram identificados 130 novos casos. Só na região da capital, Freetown, foram identificados “22 novos casos” e foram sepultados entre 60 a 70 cadáveres de vítimas que tinham sido abandonados ou estavam ainda nas suas residências, adiantou à AFP a “número dois” dos serviços de saúde pública do país. “A ordem para permanecer em casa foi respeitada pela população, o que permitiu às equipas de campanha sensibilizar as famílias sobre o ébola”, explicou Sarian Kamara.

Durante os três dias que vigorou o recolher obrigatório, a medida mais drástica adoptada pelos países afectados pelo actual surto, 30 mil voluntários andaram de casa em casa para informar as famílias sobre a doença, explicar-lhes formas de evitá-la e distribuir sabão em cada uma das 1,5 milhões de residências.

Vários especialistas criticaram, no entanto, a eficácia e a proporcionalidade da medida, dizendo que obrigar quase seis milhões de pessoas a permanecer em casa durante três dias pouco ou nada faz para travar o surto, pondo também em causa a formação dos voluntários para prestarem informações rigorosas sobre a doença. “Foi mais um golpe publicitário do que uma intervenção sanitária”, disse à agência francesa Joe Amon, director para as questões de saúde da Human Rights Watch.

Entretanto, na vizinha Libéria — o país mais atingido pelo surto e aquele onde a situação continua mais longe de estar controlada —, as autoridades anunciaram no domingo que vão quadruplicar o número de camas disponíveis para os infectados nos hospitais de Monróvia, a capital.

O vírus matou pelo menos 1578 pessoas na Libéria, mais de metade de todos os óbitos registados desde que o surto foi detectado, em Fevereiro, na vizinha Guiné, de um total de mais de 2811 infecções registadas — números que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) admite estarem subestimados.

“Estamos a recusar doentes porque não há vagas”, admitiu à AFP o ministro da Informação, Lewis Brown, dizendo que o objectivo do Governo é passar das actuais 250 camas para um total de mil até ao final de Outubro. “Dessa maneira, poderemos travar a propagação, porque quanto as pessoas regressam às suas comunidades vão infectar outras pessoas”, explicou.

Foi isso que aconteceu a Fatima Bonoh, uma mulher de 35 anos que esperava pela sua vez à porta de um hospital de Monróvia. “Estou aqui desde manhã e já cá estive ontem e anteontem, mas disseram-me sempre para me ir embora e regressar mais tarde.”

No início do mês, a OMS alertou que a Libéria poderia registar em breve um aumento elevado no número de infecções, admitindo “vários milhares de casos” se nada fosse entretanto feito para travar o surto. As últimas estatísticas oficiais datam da semana passada, mas a AFP adianta que, nos últimos dias, os hospitais da capital registaram um enorme afluxo de novos pacientes com sintomas suspeitos.
 

   

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