“É estúpido que a UE tenha entrado numa guerra fria com Putin”, disse Marine Le Pen

A Frente Nacional é um dos partidos de extrema-direita europeus que procuram as boas graças do Presidente russo.

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Marine Le Pen foi recebida no Parlamento russo já este ano Francois Lenoir/REUTERS

Na primeira conferência de imprensa que deu em Bruxelas, depois da vitória eleitoral da Frente Nacional nas europeias, Marine Le Pen não perdeu tempo a demonstrar de novo o seu apoio ao Presidente russo, Vladimir Putin, que classificou como “um patriota”.

“É estúpido da parte da União Europeia ter entrado numa guerra fria com a Rússia. Nada o justifica”, afirmou Le Pen. Nem mesmo a possibilidade da desintegração da Ucrânia. As tensões entre a UE e a Rússia no contexto da crise ucraniana constituem “um enorme erro geopolítico e geoestratégico”, até porque assim a Europa mais não faz do que “atirar a Rússia para os braços da China”. Exemplo disso é a recente assinatura de um contrato “gigantesco, histórico”, de venda de gás a Pequim.

A líder da Frente Nacional (FN) sublinhou a necessidade de a Europa “manter relações equilibradas com todos os grandes países”. A França, em particular, “tem todo o interesse em desenvolver relações comerciais e estratégicas com a Rússia”, que é, “incontestavelmente, um grande país”.

Não é de estranhar que Marine Le Pen critique “a estupidez da UE ao ter uma posição hostil à Rússia”, e que diga que Vladimir Putin e as grandes nações da União Europeia defendem “valores comuns”, que ela diz serem “a nossa herança comum da civilização cristã europeia”.

A líder da FN tem boas relações com a Rússia Unida, o partido que apoia Vladimir Putin – a prová-lo estão as frequentes deslocações a Moscovo de líderes do partido de Marine Le Pen, noticiou o Le Monde. A Frente Nacional é um dos partidos mais envolvidos com a Rússia – a própria Marine Le Pen foi já recebida este ano na Duma, a câmara baixa do Parlamento russo

Mas Marine Le Pen não está sozinha entre os novos dirigentes dos partidos de extrema-direita europeia a procurarem as boas graças russas. Acontece com o Jobbik húngaro, o Aurora Dourada grego e as várias formações nacionalistas de extrema-direita e racistas que surgiram nos países que formavam o Bloco de Leste.

Mas Moscovo está também a investir na Europa Ocidental e nos partidos de extrema-direita que entraram no Parlamento Europeu nas eleições de 25 de Maio. O Partido da Liberdade do holandês Geert Wilders, a Liga Norte italiana e o Vlaams Belang, na Bélgica, vêem com simpatia o discurso neoconservador e soberanista do Kremlin, que se vê como guardião dos valores em decadência no Ocidente.

Se a Frente Nacional chegar a formar de facto um grupo no Parlamento Europeu, essa poderá ser uma forma de a Rússia ver os seus interesses representados neste órgão da União Europeia, arriscam alguns analistas. O apoio russo a estes partidos não tem sido tanto em termos financeiros, mas sim organizacional e de estratégia, e também ao nível dos media, diz um estudo do instituto de investigação húngaro Political Capital, divulgado em Março. 

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