“É escolher entre duas coisas horríveis. Quero ir votar e esquecer”

É com muita emoção e nervos à flor da pele que os gregos estão a votar este domingo para decidir o seu futuro, na Grécia e na Europa. As urnas fecham às 17h00 (hora de Portugal continental).

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A afluência às urnas decorreu a um ritmo normal ANGELOS TZORTZINIS/AFP
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Sozinhos ou em família, de copo de café frio ou cigarro na mão, o ocasional assobio, a fila de gregos a ir votar era como a de uma eleição normal. Claro, não assim tão normal: à entrada da escola está uma câmara da CNN. Desta vez há uma pergunta a responder, e muitos gregos foram fazê-lo, alguns convencidos de que era a melhor decisão que vão expressar na vida, outros com medo de que seja a pior.

No pequeno corrupio de pessoas até uma escola no cimo de umas colinas, uma brisa a passar pelas árvores e cortar o calor, um casal vai em silêncio. Ainda nenhum decidiu o que vai votar, contam, sem querer dizer como se chamam, nem acrescentar mais nada. “É escolher entre duas coisas horríveis. Não consigo decidir qual é a mais horrível,” diz ela. “Quando estiver na cabina de voto, decido”, explica. Podemos esperar com ela e saber o que escolheu? “Não. O que quer que seja não vai ser bom. Quero ir votar e esquecer.”

Para Maria, que votou “não”, a sensação era exactamente a contrária. “É um voto contra a injustiça. O meu amigo que vota ‘sim’ – só tenho um amigo que vota ‘sim’ – diz que nós, que votamos ‘não’, vamos votar com o coração e não com a cabeça. Mas perante a injustiça como se pode responder só com racionalidade?”, pergunta, referindo-se às consequências da austeridade no país. Por outro lado, “acho que se ganhar o ‘sim’, acabou-se”, diz. “Perdemos a legitimidade de pedir mudanças, de criticar, porque aceitámos este plano. E se isso acontecer, eu não sei se consigo viver nesse país, esse outro país que eu não reconheço, que escolheu isso para si próprio.”

“Ainda tenho as mãos a tremer”, comenta depois de acabar de votar. Sai e vai directamente comprar dois jornais, os dois de esquerda, com “não” na primeira página (todos os jornais têm orientação política e neste referendo isso notou-se ainda mais). “Para ficar como recordação deste dia histórico”, diz, já emocionada.

Ao sair do quiosque, encontra uma amiga. “Tremi ao votar, e dei um beijinho no boletim de voto. Vai, voto ‘não’!”, diz a rir. A amiga, também a rir, conta que verificou dez vezes se tinha posto a cruz no local certo (era preciso pôr uma cruz em forma de ‘mais’ (+) e nenhum outro sinal seria aceite – como uma cruz em forma de xis (x) –, e o ‘não’ estava em cima do ‘sim’”). As duas decidem ir comer um gelado. “Quero que este dia seja o melhor de sempre. Quero lembrar-me de tudo o que fiz neste dia que vai ser histórico.”

Voltando à escola, os mais visíveis nas lapelas das pessoas eram os autocolantes do “não”, com muito menos “sins” (no dia das eleições e dentro dos locais de voto é possível ter material de partidos ou declarar em quem se vota).

Spiros, 37 anos, tradutor desempregado, veio com a mãe e o pai, com quem vive. Enquanto vão à vez à urna, Spiros conta porque todos votaram no “sim”: “Li um artigo no Google News que dizia que o [primeiro-ministro, Alexis] Tsipras já aceitou, na terça-feira, a proposta da troika. Então, para quê votar?”, comenta.

“Não tenho confiança nenhuma nele. Não gosto de medidas radicais. Sou pró-Europa e pró-euro, e o ‘sim’ é o mal menor”, declara. “Mas não há muito espaço para mudar. Onde quer que vamos, vamos parar a um beco sem saída. Isso é o que me assusta”, diz.

A conversa começa a complicar-se com o assunto das últimas eleições. Spiros faz uma grande introdução para explicar o seu voto. “Sou uma pessoa que fala três línguas estrangeiras. Não sou racista, e odeio quem é. Mas fui forçado pelas circunstâncias a votar Aurora Dourada”, diz, referindo-se ao partido neonazi cujos dirigentes foram presos por crimes como associação criminosa e violência contra migrantes. “Acho-os desumanos. Mas votei neles porque não consigo suportar nenhum outro político. Ponha-se na minha posição: não há nem um partido – nem um político! – com quem me identifique”, conclui.

"O ponto a que chegámos"

Também Panagiotis, 50 anos, engenheiro informático acabado de sair do desemprego, escolheu o “sim”. “É incrível ao ponto a que chegámos. Velhos a cair em frente aos bancos, nenhuma perspectiva para o país… Se as coisas estavam mal, depois de seis meses deste governo, estão pior do que nunca”, comenta.

“Infelizmente as pessoas acham que este é o modo de pressionar os governos europeus, mas eu acredito que vamos ter de fazer mais cortes e aceitar mais medidas duras”, declara Panagiotis, que antes tinha votado no partido conservador Nova Democracia, do governo anterior. “E a responsabilidade por isto, e a culpa, é toda nossa.”

Já Emilia, 31 anos, acha que é altura de experimentar algo diferente. “Já tentámos esta experiência, e já vimos que não resultou. Precisamos de algo diferente.” Por isso votou “não”. “Se ganharmos, mesmo por pouca diferença, temos uma nova oportunidade de negociar de modo diferente.”

Ela diz ainda que vota assim para ter esperança. “Tanto na Grécia como na Europa. E a solidariedade toda que recebemos de outros países? As manifestações que fizeram por nós? Vemos nas redes sociais, tantas pessoas, é extraordinário!”

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