Drones americanos matam 17 pessoas no Paquistão

Governo de Nawaz Sharif já protestou contra ataque, o maior de aviões não tripulado lançado desde o início do ano.

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Os drones alimentam a hostilidade da população paquistanesa contra os EUA Leslie Pratt/US Air Force

Dezassete pessoas, a maioria combatentes da rede Haqqani, o mais encarniçado dos grupos islamistas activos no Paquistão, morreram num bombardeamento de drones norte-americanos na zona tribal do Waziristão do Norte. É o maior ataque do género desde o início do ano e a segunda vez que os Estados Unidos ignoram as instruções do primeiro-ministro Nawaz Sharif que, ao tomar posse, exigiu o fim destas operações.

O Governo paquistanês emitiu de imediato um comunicado, recordando que “tem sublinhado repetidas vezes a importância de pôr fim aos ataques de drones”, acções que “são contraproducentes, envolvem a perda de vidas inocentes e têm implicações humanitárias e de direitos humanos”.

Em Junho, quando sete combatentes foram mortos num ataque idêntico apenas dois dias depois da tomada de posse de Sharif, Islamabad convocou o embaixador norte-americano em protesto contra a “violação da soberania e da integridade territorial do Paquistão”, recordou a BBC.

O ataque aconteceu ao início da manhã e visou um edifício nas imediações do grande mercado Miranshah, capital daquela zona tribal autónoma que é considerada um dos principais bastiões dos taliban paquistaneses, dos seus aliados afegãos e da Al-Qaeda. Responsáveis locais contam que entre dois e quatro mísseis (o número varia segundo as fontes) atingiram o prédio, provocando pelo menos 17 mortos.

Os bombardeamentos contra zonas urbanas são raros – na maioria das vezes, os alvos são esconderijos em aldeias ou nas montanhas da região – mas dirigentes locais dizem que, nem por isso, foi mais fácil socorrer os feridos. “Durante algum tempo não foi possível começar o resgate porque os drones continuavam a sobrevoar a área”, disse à Reuters o ancião Kaleemullah Dawar.

Há muito que os ataques de aviões não tripulados – uma operação coordenada pela CIA e o Pentágono – alimentam a hostilidade da população paquistanesa contra os EUA, mas apesar dos protestos formais várias fontes asseguram que Islamabad não só estava a par como dava secretamente o seu apoio às operações. “Os EUA não começaram sozinhos os ataques de drones”, disse o chefe do Estado-Maior do Exército afegão, Sher Muhammad Karimi, numa entrevista divulgada nesta quarta-feira pela BBC, na qual assegura que o Paquistão “fornece a lista” de rebeldes a eliminar. O militar vai mais longe afirmando que Islamabad quase nunca fornece dados sobre taliban afegãos (que Cabul sempre suspeitou serem apoiados pelos militares paquistaneses), mas apenas de rebeldes paquistaneses e acrescenta: se o Paquistão quisesse, a guerra no Afeganistão “terminaria em algumas semanas”.

Mas o discurso tornou-se mais duro com o regresso ao poder de Sharif, líder da Liga Muçulmana do Paquistão, derrubado em 1999 por um golpe liderado pelo general Pervez Musharraf e que viria a aliar-se a Washington na guerra contra o terrorismo desencadeada após os atentados de 11 de Setembro. Apesar de se dizer comprometido na luta contra o terrorismo, o primeiro-ministro exigiu o fim destes ataques, que considera contraproducentes.

Os EUA insistem, porém, que os drones são elementos essenciais na luta contra a Al-Qaeda e os seus aliados e recorda que, só neste ano, permitiu já eliminar dois comandantes da rede Haqqani, clã que se dedica por igual a actividades criminosas e atentados, incluindo contra as forças da NATO no Afeganistão. Entre 2004 e 2013, 3460 pessoas foram mortas no Paquistão por aviões não tripulados, 890 das quais seriam civis, segundo dados do Bureau of Investigative Journalism, citados pela BBC. O Presidente Barack Obama, responsável por um incremento no uso dos drones, prometeu no início deste ano impor regras mais apertadas no recurso a estes aparelhos.

 

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