Dois polícias baleados em Ferguson em manifestação contra o racismo

Tiros disparados no final de um protesto contra a actuação da polícia da cidade do Missouri, mas não partiram da multidão. Autoridades falam numa "emboscada".

"O racismo mora aqui", diz a faixa levada pelo smanifestantes para a porta da esquadra de Ferguson
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"O racismo mora aqui", diz a faixa levada pelos manifestantes para a porta da esquadra de Ferguson AFP
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A polícia deteve duas pessoas Kate Munsch/Reuters
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No protesto participaram algumas dezenas de pessoas AFP

Dois polícias foram baleados na madrugada desta quinta-feira em frente à esquadra da polícia de Ferguson, no estado norte-americano do Missouri, uma pequena cidade que tem sido palco de várias manifestações desde a morte do adolescente negro Michael Brown, em Agosto do ano passado.

Os dois agentes faziam parte de um cordão policial que controlava uma manifestação em frente à esquadra, horas depois de o chefe da polícia local, Thomas Jackson, ter anunciado a sua demissão na sequência de um relatório do Departamento de Justiça.

Apesar dos vários momentos de tensão que se verificaram durante o protesto, os tiros que feriram os agentes não partiram da multidão – várias testemunhas e a própria polícia dizem que os disparos foram feitos a uma distância de cerca de 100 metros, a partir de uma zona residencial.

"Estamos a falar de uma emboscada", disse o chefe da polícia do condado de St. Louis, Jon Belmar, numa conferência de imprensa realizada na manhã desta quinta-feira.

O responsável avançou pormenores sobre o estado de saúde dos dois agentes alvejados – um deles, de 32 anos de idade e há cinco na polícia, faz parte da força de Webster Groves (um outro subúrbio de St. Louis, tal como Ferguson), e foi atingido na face; o outro, de 41 anos de idade e 14 de experiência, foi baleado no ombro direito. Ambos foram levados para o hospital Barnes-Jewish, o maior da capital do estado do Missouri, e não correm perigo de vida.

Num vídeo gravado por uma pessoa que estava a poucos metros da esquadra ouvem-se pelo menos três disparos, mas algumas testemunhas dizem que ouviram quatro tiros.

Segundo os manifestantes, foram avistados clarões numa zona residencial a cerca de 100 metros de distância do cordão policial, mas as autoridades não tinham ainda conseguido deter qualquer suspeito.

A manifestação decorreu de forma relativamente pacífica – o jornal The New York Times relata que houve escaramuças entre os próprios manifestantes, que trocaram acusações sobre o seu maior ou menor grau de activismo desde que o adolescente negro Michael Brown foi baleado pelo polícia branco Darren Wilson, no dia 9 de Agosto de 2014.

O protesto da noite de quarta para quinta-feira foi motivado pela demissão do chefe da polícia de Ferguson, Thomas Jackson, que se viu forçado a abandonar o posto na sequência de um relatório do Departamento de Justiça particularmente crítico para a actuação das autoridades locais. Para além da demissão do chefe da polícia, o relatório já levou à queda do responsável administrativo de Ferguson, John Shaw, e de outros quatro funcionários, mas muitos habitantes exigem também a saída do mayor, James Knowles III.

Apesar dos protestos, o presidente da câmara de Ferguson não dá sinais de querer sair, e na quarta-feira disse mesmo que "alguém terá de ficar para comandar o navio".

"Sei que algumas pessoas querem mais uma cabeça – a minha cabeça ou a cabeça de outros –, mas estamos concentrados em encontrar formas para seguirmos em frente", disse James Knowles horas antes da manifestação que terminaria com os disparos contra os dois agentes da polícia.

O clima de tensão provocado pela morte de Michael Brown, há sete meses, estalou em manifestações violentas em Novembro, quando um grande júri decidiu não levar a tribunal o agente Darren Wilson, que disparou contra o jovem de 18 anos. Nos meses que se seguiram, as manifestações em Ferguson e em muitas outras cidades norte-americanas foram marcadas pela imagem de pessoas com os braços no ar, numa repetição daquele que teria sido o último gesto de Brown antes de ter sido baleado por Wilson.

Uma investigação paralela do Departamento de Justiça, cujas conclusões foram reveladas na semana passada, concluiu que o polícia agiu dentro da lei, tendo disparado sobre Michael Brown depois de ter sido atacado no seu carro-patrulha e no momento em que o jovem se preparava para investir contra ele.

Apesar de ilibar Darren Wilson, o mesmo relatório arrasa a actuação da polícia e dos responsáveis de Ferguson, acusando-os de conluio para aumentarem o orçamento da cidade através de uma caça à multa descarada e com recurso a métodos sujos, que penaliza muito mais os cidadãos negros do que os brancos. Foram também descobertos e-mails com mensagens racistas trocados entre agentes da polícia de Ferguson, entre os quais um que comparava o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a um chimpanzé, e outro que punha em causa a sua longevidade no cargo, em finais de 2008: "Que negro mantém um emprego durante quatro anos?"

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