Franceses que dirigiam a "Arca de Zoe" condenados no caso dos falsos órfãos

Foram jugados à revelia mas apareceram no tribunal de Paris para ouvir a sentença: dois anos de prisão.

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Éric Breteau e Émilie Lelouch quando foram julgados no Chade em 2007 Pascal Guyot/AFP

Em 2007, uma equipa de uma organização não governamental (ONG) chamada Arca de Zoé preparava-se para sair do Chade com 103 crianças, que seriam adoptadas em França, e que diziam ser órfãs do conflito no Darfur. Mas as crianças não vinham do Darfur nem eram órfãs . Eram do Chade e tinham família.

O caso chocou a França. Esta terça-feira, o fundador da ONG e seu responsável máximo, Éric Breteau, e a sua companheira, Émilie Lelouch, foram condenados por um tribunal de Paris a dois anos de prisão e ao pagamento de 50 mil euros de multa. Não poderão voltar a trabalhar com crianças.

Quatro outro membros do grupo foram condenados a penas suspensas entre os seis meses e um ano de prisão. A organização foi condenada ao pagamento de uma multa de 100 mil euros e foi dissolvida.

Em 2007, 18 membros da Arca de Zoé (16 europeus, dos quais nove franceses e dois chadianos) foram detidos em Abéché, no Leste do Chade, junto à fronteira com o Darfur. A organização tinha fretado um avião de grandes dimensões e preparava-se para levar as crianças para França. A ideia tinha sido ir buscar órfãos aos campos de refugiados e entregá-las a futuros pais franceses, frustrados com a demora dos serviços de adopção do seu país. Mas na ânsia de levar crianças, a organização acabou por tentar convencer crianças com família a entrar no avião, prometendo-lhes uma ida ao médico ou uma escola melhor, segundo outras agências de ajuda e a Cruz Vermelha.

As autoridades do Chade impediram o voo, dizendo que não tinham sido informados da intenção da ONG em levar as crianças para fora do país. Os responsáveis pela tentativa de rapto de crianças foram condenados no Chade a oito anos de trabalhos forçados em 2007, mas perdoados pelo Presidente do país no ano seguinte, e repatriados para França. Não chegaram a pagar a indemnização aos pais das crianças a que tinham sido condenados pelo Chade.

Em França, 103 pais ou casais, que tinham pago as despesas para a viagem das crianças, quantias entre dois e quatro mil euros, ficaram sem os filhos prometidas. Alguns destes foram responsáveis pelo processo no âmbito do qual os dois responsáveis foram agora condenados. Breteau e a companheira estavam a viver na África do Sul, país sem acordo de extradição com França, e foram julgados à revelia, decidindo no entanto comparecer em Paris para ouvir a sentença.
 
 
 
 

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