"Não disparem", grita mulher em vídeo do tiroteio em Charlotte

Família de homem morto pela polícia divulga vídeo após a recusa das autoridades em revelarem imagens do sucedido.

Os momentos que conduzem à morte de Keith Lamont Scott, um cidadão afro-americano abatido a tiro pela polícia de Charlotte, Carolina do Norte, são visíveis num vídeo divulgado na noite desta sexta-feira pela família da vítima.

Estas são as primeiras imagens reveladas relativas ao mais recente de uma longa série de incidentes a envolver a polícia e a comunidade negra nos Estados Unidos. A morte de Scott, na terça-feira, desencadeou uma série de protestos violentos na cidade de Charlotte.

A família do homem de 43 anos, pai de sete filhos, garante que este estava desarmado, e que o objecto preto visível em imagens divulgadas pela imprensa seria um livro. Fontes policiais indicam, no entanto, que uma arma carregada, com as impressões digitais e o sangue da vítima, foi recolhida do local.

O vídeo agora revelado foi capturado pela mulher de Scott, Rakeyia, que é ouvida a dizer à polícia que o marido se encontrava desarmado. “Larga a arma”, dizem por sua vez os agentes que rodeavam o automóvel onde o suspeito se encontrava.

“Ele não tem uma arma. Ele tem uma lesão cerebral. Ele não vos vai fazer mal. Ele acabou de tomar os medicamentos”, diz Rakeyia. Scott tinha sofrido um acidente de moto em 2015 que o deixara parcialmente incapacitado.

“Keith, não os deixes partir as janelas, sai do carro”, apela várias vezes a mulher de Scott.

Ouvem-se depois vários disparos, mas o momento em que Scott é abatido não é visível. Rakeyia reage com incredulidade: “Atingiram-no? Atingiram-no? Espero bem que não esteja morto”.

Contactada pela CNN, a família de Scott explica que decidiu divulgar o vídeo após a recusa das autoridades em revelar as imagens que a polícia tem do mesmo incidente, uma das principais exigências dos manifestantes em Charlotte.

Na sexta-feira, o chefe da polícia local, Kerr Putney, afirmou que os vídeos das autoridades não serão divulgados até que o inquérito oficial ao incidente esteja concluído, explicando que essas mesmas imagens terão de ser visionadas no seu conjunto e não fora de contexto.

Os protestos em Charlotte foram inicialmente violentos, com registo de vários agentes da polícia feridos, o que levou à declaração do estado de emergência na cidade. Na noite de sexta-feira para sábado, porém, decorreram apenas pequenas vigílias e não houve novos incidentes.

Os acontecimentos em Charlotte somam-se a outro incidente em Tulsa, no Oklahoma, onde um homem negro desarmado foi abatido a tiro pela polícia depois do seu carro ter avariado numa estrada rural. Neste caso, as autoridades suspenderam a agente que efectuou o disparo fatal, que se encontra agora sob investigação criminal.

Os dois casos reintroduziram os temas da violência policial e das tensões raciais na campanha presidencial, com o candidato republicano Donald Trump a distanciar-se pela primeira vez de anteriores afirmações de apoio inequívoco às autoridades e a expressar dúvidas sobre os incidentes – o milionário tenta agora aproximar-se do eleitorado negro, cujas sondagens indicam que apoiará esmagadoramente a rival democrata Hillary Clinton.

Entretanto, Clinton cancelou uma visita a Charlotte que estava prevista para domingo. De acordo com um comunicado da campanha citado pela Reuters, “Hillary sente-se grata e irá honrar o convite feito por líderes religiosos para visitar Charlotte”, mas a candidata decidiu “após subsequentes diálogos com líderes comunitários (…) não sobrecarregar os recursos da cidade” – uma referência às autoridades policiais, que teriam de somar ao controlo dos protestos um dispositivo de segurança para receber a ex-secretária de Estado.  

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