Dilma passa para a frente nas sondagens e abre nova fase na campanha

A cinco dias da eleição, candidatos digladiam-se pelo voto dos “remediados”, mulheres e maiores de 45 anos.

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Na terça-feira Lula da Silva ajudou Dilma, que estave em campanha em São Paulo Paulo Whitaker/Reuters

A campanha da Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, candidata a um segundo mandato, animou com a divulgação das últimas sondagens, que a colocam pela primeira vez à frente nas intenções de voto do próximo domingo, ainda que em empate técnico com o seu adversário do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), Aécio Neves.

De acordo com o instituto Datafolha, a Presidente está na liderança da corrida com 52%, contra 48% de Aécio Neves, considerando apenas os votos válidos (que excluem os brancos, nulos e indecisos), ou então em 46% contra 43%, atendendo ao universo total de votos. A vantagem da representante do Partido dos Trabalhadores (PT), no poder há 12 anos, está no limite da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais.

Numa campanha fértil em surpresas, oscilações e reviravoltas, os números vieram inverter a ordem das preferências do eleitorado e alterar mais uma vez a dinâmica da corrida. As pesquisas anteriores tinham Aécio Neves na frente, com uma margem de distância semelhante à que agora beneficia Dilma. Historicamente, os vencedores da primeira volta têm vantagem na ronda derradeira. A poucos dias da eleição, a imprevisibilidade continua, porém, a ser a nota dominante: arriscar um prognóstico nesta altura seria um atentado ao mais elementar bom senso.

Segundo o colunista do Estadão, José Roberto Toledo, nesta fase final da campanha, o movimento do eleitorado acaba por ser mais significativo do que os números. Nesse sentido, a tendência que as pesquisas desta semana revelam – de um crescimento “lento mas consistente” do apoio à Presidente Dilma Rousseff, pode acabar por ajudar a transportá-la para a vitória. No entanto, ressalva Toledo, “a diferença entre os dois é tão pequena, que a decisão pode ser decidida por factores como o erro, a abstenção ou até o voto no exterior”, que não estão medidos nas sondagens.

Atentas às indicações das pesquisas, as campanhas procuram afinar as mensagens dos candidatos nesta recta final. O principal alvo dos dois é a faixa de “remediados”, que alberga a maioria dos 6% de brasileiros que ainda se confessam indecisos (cerca de 6,8 milhões de pessoas, de um total de 114 milhões de votantes da primeira volta). Tal como no universo total de eleitores, onde prefazem 52%, as mulheres representam mais a maioria dos indecisos, com 67%. Em termos de faixa etária, são os mais velhos do que 45 anos que estão menos seguros sobre o seu voto: Aécio Neves domina entre aqueles que têm mais de 60 anos, enquanto Dilma Rousseff captura mais votos na faixa intermédia.

Insuflada por um novo alento, a candidatura da Presidente aposta nas camadas populares que estão mais dependentes de acções do Estado: os últimos vídeos de propaganda lembram todas as estradas, hospitais e escolas construídos pelo Governo Dilma, e insistem no principal argumento do PT, que é o da continuidade da acção redistributiva que permitiu tirar milhões de pessoas da pobreza. A linha da campanha é de que uma segunda etapa consiste em melhorar a vida das pessoas “da porta de casa para fora” – uma vez que “lá dentro” já dispõem de frigorífico, televisão e acesso à Internet.

Do lado contrário, Aécio Neves procura desfazer o retrato de facilidades e esvaziar as promessas governativas, sublinhando que “as pessoas não compram essa ideia de que a vida está às mil maravilhas como prega a campanha de Dilma”, nota um dos coordenadores da campanha do PSDB, Duarte Nogueira. Em campanha pelo Pará, ao lado de Fafá de Belém e do ex-jogador de futebol Ronaldo, o social-democrata procura reavivar o grito de insatisfação dos brasileiros no ano passado, repetindo que só a sua proposta encarna a mudança que o país deseja.

Os dados da Datafolha vindicaram a acção da campanha do PT, sugerindo que a ligeira subida de Dilma nas sondagens se deve a uma melhoria na apreciação geral do desempenho do Governo, que subiu três pontos face à última pesquisa (e com 43% está agora no patamar máximo depois das grandes manifestações de 2013), e a um aumento do grau de rejeição do eleitorado à candidatura do PSDB, de 38 para 40% – a estratégia de “desconstrução” de Aécio Neves seguida pelo poderoso marqueteiro do PT João Santana, e tão criticada na semana passada, parece ter produzido o efeito desejado.

A taxa da rejeição de Aécio é agora ligeiramente superior à de Dilma – 40% dos eleitores inquiridos pelo Datafolha disseram que não votariam nele “de jeito nenhum”, com 39% a responder o mesmo em relação à Presidente. E a percentagem de brasileiros que considera a actuação do Governo “ruim ou péssima” diminuiu para 20%, o valor mais baixo desde Novembro de 2013.

Outras más notícias para a campanha do PSDB na sondagem do Datafolha: o crescimento de Dilma na região do Sudeste, que engloba São Paulo, o principal colégio eleitoral do país, e o seu avanço entre o eleitorado feminino, ou a convicção de 56% dos eleitores de que Aécio Neves é o candidato que “defenderá os ricos”.

Um novo retrato do estado da corrida deve ser divulgado já amanhã.

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