Dilma e Obama viram a página e mostram nova "fase" de relacionamento

Em visita oficial a Washington, Presidente brasileira tenta contrariar descontentamento doméstico com notícias positivas.

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Só sorrisos entre Dilma e Obama Kevin Lamarque /Reuters

A tensão e acrimónia entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, por causa das escutas conduzidas pela Agência Nacional de Segurança à Presidente Dilma Rousseff, está definitivamente ultrapassada, como se comprovou esta terça-feira pelos sorrisos à saída da reunião de alto-nível na Casa Branca que selou a viragem de página e a reaproximação entre os dois líderes e os dois países.

Além dos cumprimentos registados pelas câmaras, os dois Presidentes apresentaram resultados concretos desta “nova” fase de relacionamento. O principal compromisso surgiu na área ambiental e energética, com ambos os países a concordarem em aumentar para mais de 20% a participação de fontes renováveis na produção de electricidade, excluindo a geração de energia hidroeléctrica. O Brasil comprometeu-se ainda a restaurar e reflorestar até 12 milhões de hectares de floresta nos próximos 15 anos, bem como a “implementar políticas com vista à eliminação do desmatamento ilegal”.

Os dois Presidentes anunciaram ainda passos para a facilitação da circulação de bens e mercadorias entre os dois países. O anúncio prenuncia a abertura do mercado norte-americano à venda de carne brasileira, mas o mais importante para os turistas brasileiros é a possibilidade do levantamento das restrições à entrada nos EUA, com a eventual inclusão do Brasil na lista de países que dispensam visto prévio para o acesso ao território norte-americano (uma política que será reciprocada pelo Brasil).

A visita oficial de Dilma a Washington esteve originalmente marcada para Outubro de 2013, mas acabou por ser desmarcada após as revelações das escutas da NSA. Após a reeleição, os Estados Unidos endereçaram um novo convite à Presidente – conforme explicou Paulo Sotero, director do programa para o Brasil do Woodrow Wilson Center , o protocolo da Casa Branca atirou a visita para o próximo ano, mas Dilma não se fez rogada. “Ela declinou e pediu para vir agora, quando mais precisa”, acrescentou Sotero, em entrevista à NPR.

O calendário é preponderante para a líder brasileira: com a agenda doméstica repleta de problemas, e uma popularidade na casa dos 10%, a viagem a Washington é uma tentativa de insuflar algum fôlego na sua presidência e recolher recursos para o Brasil. A missão de Rousseff passa não só reatar (ou “recalibrar”, como escreve a imprensa nacional) a relação diplomática e comercial com o seu aliado histórico, mas também promover o seu país como um destino para o investimento norte-americano, nomeadamente a partir do lançamento do novo pacote de concessões para a construção e exploração de infraestruturas como estradas, portos, caminhos-de-ferro ou aeroportos, no valor de quase 200 mil milhões de reais (cerca de 57 mil milhões de euros).

Por isso, antes de seguir para a capital, Dilma passou por Nova Iorque, centro financeiro dos EUA, onde tomou a iniciativa de falar sobre o escândalo na Petrobras e em termos mais gerais na questão da corrupção, fenómeno que mina a confiança dos investidores estrangeiros e dificulta os negócios no Brasil.

Num encontro à porta fechada com empresários norte-americanos, admitiu a existência de “problemas” mas assegurou que o Governo tomou medidas para aperfeiçoar o modelo de gestão da petrolífera estatal e aprovou leis para combater a corrupção. Além disso, insistiu que a nova política económica que está a ser seguida – leia-se, o chamado programa de “ajuste” fiscal – permitirá corrigir o desequilíbrio orçamental e retomar a rota de crescimento.

Apesar do tom positivo em que decorreu a visita, Dilma não logrou escapar totalmente ao descontentamento e protesto que têm marcado a sua vida no Brasil. Um pequeno grupo de manifestantes fez piquete em frente à residência oficial que hospeda as visitas do Presidente dos EUA, exibindo cartazes contra a Presidente e o seu Partido dos Trabalhadores (PT). “Fora Dilma. Volta para Cuba. Fora o PT e fora Fórum de São Paulo”, diziam.

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