Dez meses depois, Líbano tem Governo de compromisso

Pastas foram divididas entre os campos rivais para evitar vetos às decisões governamentais.

Dez meses passaram desde que o primeiro-ministro Najib Mikati se demitiu. O impasse político foi acompanhado pelo aumento da violência que transborda da Síria, onde os dois campos libaneses se dividem, com o Hezbollah e os seus aliados a apoiarem o regime de Bashar al-Assad e a coligação do ex-primeiro-ministro Saad Hariri ao lado da oposição síria.

“Um Governo foi formado, no espirito da inclusão e do interesse nacional”, anunciou o novo primeiro-ministro, Tamman Salam, na televisão libanesa.

Salam disse esperar que agora seja possível organizar eleições presidenciais antes do fim do mandato do actual chefe de Estado, Michel Suleiman, que deixa o cargo em Maio. O mesmo vale para as legislativas, adiadas no ano passado. “Estendo a mão a todos os líderes e confio na sua sabedoria para atingir esses objectivos, peço a todos que se juntem e façam concessões no interesse do nosso projecto nacional.”

Salam, um deputado sunita, foi nomeado em Abril para formar governo, mas as rivalidades entre o bloco 8 de Março, dominado pelo Hezbolah, e a aliança 14 de Março, da corrente Futuro, de Hariri, só agora permitiram completar a escolha do gabinete.

A última disputa aconteceu por causa da pasta da Energia – um ministério que ganhou peso com a descoberta de gás ao largo da costa mediterrânica do Líbano – que acabou por ser entregue a Arthur Nazarian, de um pequeno partido arménio.

Hariri aceitou integrar um governo com o Hezbollah, que acusa de ter assassinado o seu pai, o ex-primeiro-ministro Rafiq Hariri, morto num atentado em Beirute fez nove anos na sexta-feira. Depois, aceitou deixar cair a sua escolha para o poderoso Ministério do Interior, o general na reforma Achraf Rifi, vetado pelo Hezbollah e que acabou por ficar com a Justiça. Com a pasta do Interior ficou Nouhad al-Machnouk, também da aliança 14 de Março.

Dos 24 ministros, oito pastas serão asseguradas por membros desta aliança, o mesmo número atribuído ao campo do Hezbollah. Outros oito foram divididos entre próximos do Presidente Suleiman, considerado como neutro, e do líder druzo Walid Jumblatt. É a velha fórmula libanesa de dividir o poder: com este equilíbrio, nenhum dos rivais terá direito de veto sobre as decisões do Governo.

Nos últimos dez meses, enquanto Salam tentava negociar a formação de um governo, o Líbano esteve nas notícias por causa de uma série de atentados atribuídos a grupos extremistas sunitas que operam na Síria e também por causa de assassínios de políticos. A guerra que destrói a Síria trava-se também daquele lado da fronteira. Ao admitir que combate ao lado de Assad, o Hezbollah tornou-se um alvo para alguns do que combatem o regime sírio.

Em simultâneo, o pequeno Líbano, com uma população de menos de 4,5 milhões de habitantes, recebeu mais de um milhão de refugiados sírios, muitos a viver em condições desesperadas nas zonas de montanhas ou nos subúrbios de Beirute. “Também temos de ligar com os nossos complicados assuntos económicos e sociais, o mais importante de todos é o número crescente de refugiados entre os nossos irmãos sírios e o fardo que isso colocou sobre o Líbano, disse o primeiro-ministro.

De França chegaram os desejos do Presidente François Hollande de que a formação deste governo seja o primeiro passo para o Líbano enfrentar “os múltiplos desafios que enfrenta”. “É importante que a comunidade internacional esteja pronta assistir “ o Líbano, disse Hollande, anunciando que em breve vai receber em Paris um encontro do Grupo Internacional de Apoio ao Líbano.

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