Depois de iniciar greve de fome, Pussy Riot passou para uma cela solitária

A advogada teme pela segurança de Nadezhda Tolokonnikova que, numa carta aberta publicada na segunda-feira, denunciou o silêncio imposto pelas ameaças dos responsáveis prisionais.

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Nadezhda Tolokonnikova foi condenada a dois anos de prisão. Deverá sair em Março NATALIA KOLESNIKOVA/AFP

Um dia depois de divulgar uma carta aberta em que anunciava entrar em greve de fome, Nadezhda Tolokonnikova, uma das duas Pussy Riot condenadas na Rússia em Agosto de 2012, foi transferida para uma cela solitária na prisão colonial onde está desde o Outono. A cela de sete metros quadrados tem uma cama, frigorífico e sanita, anunciou o Serviço Prisional Federal citado por vários jornais.

A transferência visa oficialmente “proteger” Nadezhda Tolokonnikova das ameaças vindas de outras prisioneiras que ela própria denunciava e não puni-la, dizem as autoridades. No testemunho, a activista justificava o “método extremo” de greve de fome era “a única forma” de fazer ouvir a sua voz.

Na carta que circulou em sites do mundo inteiro, Tolokonnikova descrevia o “terror” vivido pelas prisioneiras submetidas a humilhações, ameaças e agressões, a falta de higiene, repouso e o excesso de trabalho, obrigadas que estão a cumprir objectivos impossíveis de alcançar sem um “trabalho escravo” que ocupa dois terços das horas do dia.

O responsável da comissão de supervisão, Gennady Morozov, insiste, citado pelo jornal Moscow Times, que a administração prisional optou pela cela individual para responder às queixas da detida sobre a violência cometida por outras prisioneiras e não para aplicar uma medida disciplinar contra ela.

Investigação às denúncias
Na carta, posta a circular pelo seu marido Pyotr Verzilov na segunda-feira e publicada na íntegra no jornal The Guardian, a activista de 23 anos descrevia casos em que eram as reclusas a espancar as colegas, a mando dos responsáveis ou com o seu consentimento. Os maus tratos são “um método conveniente” de instaurar o medo e “forçar as prisioneiras à submissão total perante os sistemáticos abusos de direitos humanos”, continuava a activista, antes de descrever a “atmosfera ameaçadora, de ansiedade que invade a [sua] área de trabalho” na colónia penal.

Nadezhda Tolokonnikova, que deverá sair em Março, foi condenada em Agosto de 2012 a dois anos de prisão, juntamente com Maria Aliokhina e Iekaterina Samutsevich, entretanto libertada. As três Pussy Riot foram consideradas culpadas de acusada de hooliganismo e incitamento ao ódio religioso, por terem cantado, em Fevereiro, uma “oração punk” na Catedral do Cristo Salvador, em Moscovo, na qual criticavam a Igreja Ortodoxa russa e o Presidente Vladimir Putin.

O conselheiro para os direitos humanos de Putin diz que as queixas de Nadezhda Tolokonnikova vão ser investigadas por dois representantes já enviados ao local. “Assim que recebermos um relato do trabalho deles, poderei dar a minha opinião sobre o que realmente aconteceu; sobre quem tem razão e quem tem culpa”, afirmou citado pelo jornal The Guardian.

Ameaças desmentidas
O mesmo chefe da hierarquia na administração da prisão, tenente-coronel Kupriyanov, que intimou Tolokonnikova a confessar a sua culpa, para ver reduzida a pena, e que politicamente se identificou como estalinista, desmente as acusações de ameaças de morte contra a activista. Na terça-feira, acusou o marido e a advogada Irina Krunova de tentativa de chantagem através da publicação da carta. Os três estiveram reunidos no passado dia 17 para falar das condições de detenção de Tolokonnikova, mas sem tentativas de chantagem, garantem Verzilov e Krunova.

A advogada teme pela segurança de Nadezhda Tolokonnikova, agora isolada. “Os responsáveis da administração podem entrar na cela, e do que ela se queixa justamente é de ameaças da administração”, cita a agência.

Na carta, a activista denunciava ameaças e a intimidação dos responsáveis para impor o silêncio. Na colónia penal n.º14, “ninguém ousa desobedecer”, dizia ainda. O trabalho forçado ocupa dois terços das horas do dia, o repouso permitido é de quatro horas por noite e o dia de descanso apenas acontece uma vez em cada mês e meio. As mulheres são frequentemente espancadas, dizia ainda. Vivem “aterrorizadas”, “têm medo das próprias sombras”.

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