Dentro de mês e meio haverá entre 5000 e 10.000 novos casos de ébola por semana

A OMS divulgou números novos e devastadores. O objectivo: mostrar o que vem aí num momento em que o Conselho de Segurança debate a doença e a UE se reúne para planear como travar a propagação.

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Enterro de vítima de ébola na Serra Leoa FLORIAN PLAUCHEUR/AFP
Bruce Aylward, director-adjunto da OMS: 70% dos infectados morrerão
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Bruce Aylward, director adjunto da OMS: 70% dos infectados morrerão Reuters

Os números são brutais, mostram a gravidade da doença e a rapidez com que se propaga. Segundo a Organização Mundial de Saúde, no início de Dezembro — ou seja, dentro de escasso mês e meio —, deverá haver entre 5000 e 10.000 novos casos de ébola por semana. A taxa de mortalidade, essa, estima-se que continue a ser muito elevada — 70% nos países mais afectados, a Libéria, a Serra Leoa e a Guiné-Conacri.

Os novos números foram divulgados nesta terça-feira, horas antes de o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunir de emergência para debater a doença e formas concertadas de combater a sua propagação. "No início de Dezembro, podemos ter entre 5000 e 10.000 novos casos por semana", disse em Nova Iorque o director adjunto da OMS, Bruce Aylward. Será um aumento substancial no número de pessoas infectadas, uma vez que, neste momento, estão a ser referenciados mil novos casos por semana.

A epidemia do ébola, doença que está a infectar e a matar sobretudo na África ocidental — mas já chegou aos Estados Unidos e à Europa —, matou até esta terça-feira 4447 pessoas em 8914 infectadas. Aylward explicou, porém, que estes números falham por defeito, uma vez que há uma grande quantidade de casos não registados. O número real de infectados nas capitais dos três países mais afectados deverá ser bastante maior — 1,5 maior na Guiné, duas vezes mais na Serra Leoa e 2,5 vezes mais na Libéria.

"Para este grupo de pessoas [da África Ocidental] que sabemos estarem doentes e cuja sorte conhecemos, a taxa de mortalidade é de 70%, sendo este número idêntico para os três países", disse o director adjunto da OMS, que é o responsável pela acção no terreno desta agência da ONU.

A avalanche de números terríveis foi usada por Bruce Aylward para explicar que o mundo tem de se concertar para combater, em bloco e de forma eficaz, esta epidemia. A comunidade internacional, disse em tom crítico, tem de "dar provas de maior determinação para responder de forma decisiva". Além da reunião no Conselho de Segurança, está prevista outra reunião de alto nível para debater formas de controlo e combate à doença — na quarta-feira, em Bruxelas, juntam-se os ministros da Saúde dos países da União Europeia e entre os temas em debate estarão o reforço dos controlos alfandegários (aeroportos, portos e rede ferroviária) e um maior esforço de coordenação na prevenção.

As Nações Unidas traçaram já um objectivo, ambicioso e que exige acções concertadas entre os países: travar a expansão da doença até 1 de Dezembro, a data em que o número de casos vai aumentar exponencialmente. Para isso, quer criar mecanismos de segurança para o enterro dos mortos e garantir o isolamento de pelo menos 70% dos casos suspeitos. "É um projecto muito ambicioso", disse Aylward, considerando que a "propagação geográfica é um dos maiores desafios".

O número de casos continua a aumentar nos países da África Ocidental, apesar de nesta terça-feira, um comunicado da OMS referir que no Senegal e na Nigéria não surgiram novos casos e que os países poderão ser considerados livres da epidemia. O último caso registado nestes países data de há 42 dias. "Se a vigilância continuar e se não for detectado outro caso, a OMS poderá declarar o fim da epidemia na Nigéria a 17 de Outubro e no Senegal a 22", diz o comunicado desta agência.

A Europa e os Estados Unidos já têm mortos — pessoas que contactaram com a doença em África ou que lidaram com doentes transferidos para hospitais europeus. Sabe-se que o doente que morreu nos EUA e a auxiliar de enfermagem infectada em Espanha — e cuja situação é "preocupante", mas que denotou melhoras — contraíram o vírus devido a falhas no protocolo de segurança. A mais recente vítima do ébola a morrer na Europa foi um sudanês, funcionário da ONU, que chegou a Leipzig (Alemanha) na semana passada, proveniente da Libéria.

 

 

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