Médico da OMS atacado no Paquistão durante campanha contra a poliomielite

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Veículo da OMS foi atingido por homens armados Rizwan Tabassum/AFP

Dois homens, entre eles um médico estrangeiro, ficaram feridos quando o veículo da Organização Mundial de Saúde em que viajavam foi atacado por homens armados em Carachi, no Paquistão. A delegação estava a promover uma campanha de vacinação contra a poliomielite no Paquistão que já sofreu ameaças dos taliban.

O ataque, que não foi reivindicado, ocorreu poucos dias depois de os taliban terem bloqueado o acesso dos responsáveis pela campanha de vacinação a algumas regiões tribais na fronteira com o Afeganistão, o que está a pôr em causa a saúde de mais de 250 mil crianças. Os autores do ataque em Carachi, no Sul do país, dispararam sobre o veículo da OMS e causaram ferimentos num médico do Gana e no motorista.

Os dois foram levados para um hospital da cidade e estão livres de perigo, adiantou à AFP a porta-voz da agência da ONU para a saúde, Maryam Yunus. Os disparos ocorreram em Sohrab Ghoth, um bairro pobre da região onde vivem cerca de 18 milhões de habitantes, muitos deles oriundos do Sul do Afeganistão e do Noroeste do Paquistão, onde existe uma forte presença dos taliban.

Mohammad Sultan, porta-voz da polícia local, adiantou que o médico que ficou ferido estava a trabalhar na região há cerca de três meses e agora participava na campanha de vacinação que pretende imunizar cerca de 34 milhões de crianças paquistanesas contra a poliomielite. Os taliban têm-se oposto a esta iniciativa por considerarem que poderá servir para encobrir acções de espionagem, o que já levou o Governo a adiar as acções de vacinação nas regiões tribais do Noroeste do país.

Em Junho, um comandante local taliban, Hafiz Gul Bahadur, impediu a vacinação contra a poliomielite no Waziristão do Norte em protesto contra as incursões de aviões não tripulados (drones) da CIA na região, e por considerar que a campanha contra a poliomielite poderia ser usada para encobrir acções de espionagem.

Este receio por parte dos rebeldes com ligações à Al-Qaeda aumentou em 2011, quando Osama Bin Liden foi morto numa operação das forças especiais norte-americanas em Abbottabad, no Paquistão, após uma campanha de vacinação contra a hepatite realizada pelo médico paquistanês Shakeel Afridi – entretanto condenado a 33 anos de prisão. Esta campanha terá sido organizada pela CIA e ajudou os EUA a chegar ao líder da Al-Qaeda.

O ataque em Carachi foi confirmado pela OMS. “Um funcionário e um consultor internacional ficaram feridos quando o veículo em que seguiam foi atingido por homens armados”, adiantou a organização em comunicado. “Neste momento não há ainda provas de que sugiram ter sido um ataque deliberado contra a campanha de vacinação da OMS.”

Nesta campanha de vacinação estão envolvidos cerca de 200 mil voluntários, a maioria paquistaneses, e a OMS adiantou que “este incidente não irá desviar as atenções quanto aos progressos que estão a ser feitos no Paquistão, que está cada vez mais perto da erradicação” da poliomielite.

O Paquistão é, no entanto, a par da Nigéria e do Afeganistão, um dos países onde esta doença continua a ser endémica. Este ano, até 10 de Julho, foram registados 22 casos no país, uma diminuição significativa quando comparada com as 59 infecções verificadas no mesmo período do ano passado, sublinhou o porta-voz da OMS, Oliver Rosenbauer.

A poliomielite afecta sobretudo crianças até aos cinco anos de idade, é uma infecção que pode causar paralisia em algumas horas ou mesmo levar à morte. O plano de erradicação da doença lançado pela Organização Mundial de Saúde fez baixar o número de casos de 350.000 em 125 países, em 1988, para 1352, em 2010. Em Angola, Chade e República Democrática do Congo houve um ressurgimento de casos em 2011, o que levou à aplicação de planos de emergência.

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