Debate Merkel-Steinbrück: euro e um colar nas eleições alemãs

Foto
O tempo de resposta dos dois participantes foi rigorosamente cronometrado. Espectadores dividiam-se sobre quem venceu Fabrizio Bensch/Reuters

A chanceler alemã, a democrata-cristã Angela Merkel, e o seu concorrente, o social-democrata Peer Steinbrück, enfrentaram-se neste domingo num “duelo televisivo”, o único entre ambos, antes das eleições de 22 de Setembro.

As primeiras atenções foram para o colar da chanceler, com as cores da bandeira da Alemanha. “Colar: 60%, política, 40%”, brincava um utilizador do Twitter.

Algumas diferenças entre os concorrentes ficaram mais expostas neste debate. Peer Steinbrück enveredou por um caminho algo arriscado ao criticar a política de gestão do euro de Angela Merkel – ela é vista como tendo tido uma abordagem segura, prudente, e que tem protegido os interesses dos contribuintes alemães. E Merkel pode defender-se dizendo que o SPD aprovou todas as medidas propostas ao Bundestag pelo Executivo.

Como notou a jornalista do Wall Street Journal Gabriele Steinhauser, ao minuto 19 a questão grega entrou no debate. Merkel admitiu a possibilidade de um terceiro empréstimo à Grécia, mas não adiantou de quanto poderia ser. Steinbrück perguntou o que acontecerá se a Grécia e Portugal não pagarem o que lhes foi emprestado, mas por outro lado, lembrou que a Alemanha já foi ajudada, citando o plano Marshall do pós-guerra, e defendeu mais atenção a problemas como desemprego jovem, e medidas para ajudar ao crescimento (embora não especificasse quais).

Merkel rispostou que não é uma questão de “se ajudamos” mas de “como ajudamos”, sublinhando que são precisas reformas. “A Grécia não tem só um défice financeiro”, afirmou. Os empréstimos devem estar ligados a performance, defendeu.

Nas alegações finais, Steinbrück voltou ao tema, defendendo liderança e não andar "às voltas" com a crise.

O início do debate foi marcado pelo tema dinheiro, como notava a revista Der Spiegel. Portagens em auto-estradas? Não, disseram ambos os candidatos, matando um possível debate. Este seguiu-se com o aumento de impostos para os mais ricos proposto por Steinbrück. Merkel não defende uma subida de impostos nem do endividamento para criar emprego – “arriscamo-nos a aumentar os impostos e aumentar a dívida e não criar emprego”, disse.

Os dois foram pressionados para dizer que coligação querem. Merkel garantiu que quer governar com os liberais, o seu parceiro actual no Executivo (nas sondagens estão mesmo no limite do necessário para entrar no Parlamento, pelo que não é certo se Merkel poderá contar com o partido liberal). E Steinbrück foi o alvo do comediante entre os jornalistas (o debate foi liderado por três jornalistas e um apresentador de programas de entretenimento), que brincou com o facto de ele dizer que é apenas candidato a chanceler e não a ministro numa grande coligação (Steinbrück já foi o ministro das Finanças de Merkel, como ela aliás lembrou), mas as sondagens mostrarem que as hipóteses de isso acontecer são muito remotas. Mas Steinbrück mantém que não quer uma grande coligação.

Falou-se do sistema de saúde - o sistema público atravessa algumas dificuldades - com ambos os candidatos a admitirem que têm seguro de saúde. Em termos de polícia externa, Merkel garantiu que a Alemanha não participará num ataque à Síria sem um mandato internacional, Steinbrück declarou-se contra uma ofensiva militar.

As sondagens mostravam um resultado semelhante a um empate. A ARD diz que 44% acharam Merkel mais convincente, e 43% acharam Steinbrück mais convincente. A ZDF aponta uma diferença: Merkel 40%, Steinbrück 31%. Já o jornal Die Zeit diz que 49% acharam o candidato social-democrata mais convincente, 44% a chanceler.

A primeira pergunta foi para Steinbrück, o fecho para Merkel. “E agora desejo-vos uma boa noite”, foram as palavras finais do “duelo”.

Sugerir correcção
Comentar