David Cameron acusado de se acobardar ao não aceitar debate com Miliband

Primeiro-ministro rejeita o frente-a-frente com o líder da oposição. Só participa num debate com sete partidos e antes do arranque da campanha para as legislativas.

Foto
Apesar da polémica, David Cameron está decidido: estará num único debate, com todos os partidos AFP

Era expectável: uns disseram que "tem medo", outros que "se acobardou" e o partido populista e xenófobo UKIP até o comparou a "uma galinha" em fuga. David Cameron está sob fogo político, que surge de todos os sectores, por ter recusado participar num debate televisivo com o líder da oposição trabalhista, Ed Miliband.

Para os padrões britânicos, a oposição está a usar uma linguagem particularmente dura e crua para comentar a decisão de Cameron (conservador), anunciada no sábado à noite.

A BBC, a ITV, o Channel 4 e a Sky propuseram a realização de três debates antes das eleições legislativas de 7 de Maio. Dois reunindo os sete principais partidos e um último, uma semana antes da votação, apenas entre Cameron e Miliband.

Só haverá um debate, fez saber o gabinete de comunicação de Downing Street (a sede do Governo), com todos os partidos e no dia 30 de Março, antes do início oficial da campanha. "É a nossa oferta final", disse o director de comunicação de Cameron, Craig Oliver, explicando aos jornalistas que o primeiro-ministro decidiu ditar as regras para "pôr fim ao caos" que se gerara à volta dos debates.

A polémica dura há um mês. Primeiro, os media e os comentadores discutiram que tempo de antena deveria ser dado aos nacionalista do UKIP, de Nigel Farage; a seguir debateram as ameaças de Cameron em não participar. Mas o primeiro-ministro, em vez de travar a polémica, voltou a acirrá-la — de tal forma que o jornal The Guardian está a fazer um "ao minuto"  no seu site, para acompanhar as reacções, que surgem em catadupa.

O UKIP disse que Cameron "foge como uma galinha". O Partido Nacional da Escócia (SNP) chamou-lhe "arrogante". Ed Miliband fez um único comentário: "É como ele quer e onde ele quer". E Nick Clegg, líder dos liberais-democratas e parceiro de Cameron na coligação governamental, vendo um momento favorável, disse que se Cameron "é muito importante e está muito ocupado", ele está disponível para um debate a sós com Miliband.

Nick Clegg foi o vencedor dos três debates em 2010, quando o modelo foi introduzido no Reino Unido. Foi um sucesso, com 22 milhões de espectadores a seguirem as emissões.

As eleições de 7 de Maio podem tirar David Cameron de Downing Street e mudar a paisagem política do Reino Unido. Nesta quinta-feira foi publicada uma sondagem que confirma que o Partido Nacional Escocês (SNP) vai ser crucial para determinar quem será o próximo primeiro-ministro.

Os dados revelados por Lord Michael Ashcroft — antigo deputado conservador que tem agora um conceituado instituto de sondagens — dizem que o SNP deverá conseguir 56 dos 59 lugares de eleitos pela Escócia no Parlamento de Londres. A Escócia era um feudo trabalhista mas o movimento pela independência galvanizou o SNP de Nicola Sturgeon, que roubou eleitorado ao labour.

Um resultado esmagador dos nacionalistas escoceses é uma má notícia para David Cameron, cujo partido está em dificuldades em todo o reino — não consegue descolar nas sondagens, estando a escassos deputados da oposição trabalhista liderada por Ed Miliband.

Diz o Guardian que, se as eleições fossem agora, Cameron elegeria 276 deputados, os trabalhistas ficariam com 271, o partido escocês 52, os liberais democratas 25, o UKIP 4 e o partido Verde 1. Quatro lugares estão entregues a “outros”.

Nos cenários que se podem construir a partir destes números, pertence a Cameron a tarefa mais difícil de criar uma coligação governativa — teria que manter o apoio dos liberais-democratas (que podem passar a sua aliança para os trabalhistas) e juntar a mais duas forças, o UKIP e outra.

Miliband, aliando-se aos escoceses, tem a tarefa mais facilitada, sobretudo se conseguir seduzir  os liberais-democratas para o seu campo.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários