Cuba exige devolução de Guantánamo

Regresso do território à soberania cubana é uma das condições para que Havana e Washington voltem a ter relações bilaterais.

Foto
EUA e Cuba deram os primeiros passos para reatar as relações diplomáticas Yamil LAGE/AFP

O Presidente cubano, Raúl Castro, garantiu que está empenhado em normalizar as relações com os Estados Unidos, mas afirmou que isso só acontecerá se Washington devolver ao seu país a base naval de Guantánamo.

Num discurso proferido na 3.ª cimeira da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e das Caraíbas (Celac), que decorre na Costa Rica, o líder cubano dedicou metade do tempo a falar sobre a reaproximação entre Cuba e os Estados Unidos, anunciada em Dezembro.

Perante os restantes chefes de Estado e de Governo da Celac, Castro felicitou "o povo dos Estados Unidos", por ter manifestado "crescente oposição à política de embargo e à hostilidade" (numa referência ao embargo imposto a Cuba pelos Estados Unidos desde 1960), e descreveu a reaproximação entre os dois países como uma prova de que "as divergências profundas podem ser resolvidas através de um diálogo respeitoso, baseado na igualdade soberana e na reciprocidade".

Depois dos elogios, o líder cubano apontou aquele que é, no seu entender, o único caminho para que Cuba e os Estados Unidos voltem um dia a manter relações bilaterais sem quaisquer condicionantes.

"O problema principal não foi resolvido. O embargo económico, comercial e financeiro, que provoca enormes prejuízos humanos e económicos, e que constitui uma violação do Direito Internacional, deve terminar", disse Raúl Castro.

O líder cubano deixou claro que as reuniões da semana passada entre delegações dos dois países com vista ao reatamento das relações diplomáticas são apenas "o início de um processo com vista à normalização das relações bilaterais".

"Mas isso não será possível enquanto o embargo existir, enquanto não for devolvido o território ocupado ilegalmente pela Base Naval de Guantánamo, enquanto não terminarem as transmissões radiofónicas e televisivas que violam as normas internacionais, enquanto o nosso povo não for justamente compensado pelos prejuízos humanos e económicos que sofreu", afirmou Raúl Castro.

Para além disso, o líder cubano disse ainda que o seu Governo não está disposto a negociar os seus assuntos internos, que são "absolutamente soberanos".

"Foi possível fazer avanços nesta negociação recente porque nos tratamos reciprocamente com respeito, como iguais. Para seguirmos em frente, terá de continuar a ser assim."

Para além do fim do embargo e da devolução do território ocupado pela base norte-americana em Guantánamo, Raúl Castro exigiu também que Cuba seja retirada da lista de Estados que apoiam o terrorismo internacional.

Apesar de se congratular com a reaproximação entre Havana e Washington, deixando um elogio implícito ao Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e ao "grande apoio que recebeu no seu país", Raúl Castro disse que a Casa Branca pode fazer mais para apressar o processo.

"O Presidente Barack Obama poderia usar com determinação os seus amplos poderes executivos para alterar substancialmente a aplicação do embargo, sem depender de uma decisão do Congresso. Poderia autorizar em outros sectores da economia tudo o que autorizou no âmbito das telecomunicações, com evidentes objectivos de influência política em Cuba", disse o líder cubano.

Para terminar, Raúl Castro reafirmou que o fim do embargo norte-americano será "um caminho longo e difícil", mas que será possível realizar "com o apoio, a mobilização e a acção decidida de todas as pessoas de boa vontade nos Estados Unidos e no mundo". O líder cubano apelou também à ONU que aprove uma resolução com vista ao fim do embargo já na sua próxima sessão, marcada para Setembro.
 

   


 

   





Sugerir correcção
Ler 14 comentários