Cuba confirma posse de armamento descoberto em navio norte-coreano

Governo de Havana diz que equipamento militar da era soviética interceptado no Panamá ia ser reparado para depois voltar.

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Por baixo das sacas de açúcar amarelo cubano estava o material militar Carlos Jasso/REUTERS

Cuba anunciou que armamento encontrado a bordo de um navio norte-coreano interceptado no Panamá lhe pertence e que é material “obsoleto”, que ia ser reparado na Coreia do Norte para depois voltar.

O navio foi retido no sábado no porto de Colón, pouco antes de entrar no Canal do Panamá, a caminho do Oceano Pacífico, depois de as autoridades panamianas terem recebido a informação de que transportava droga. Após uma inspecção ao cargueiro, que oficialmente transportava açúcar, foi encontrada “maquinaria de guerra” não declarada. A informação só foi divulgada na segunda-feira.

Um comunicado do ministério dos Negócios Estrangeiros cubano lida na televisão indica que as armas encontradas a bordo do cargueiro Chong Chon Gang são “240 toneladas de armas defensivas obsoletas – dois misséis terra-ar Volga e Pechora, peças de nove mísseis, dois aviões Mig-21 e 15 motores para estes aparelhos – todos fabricados em meados do século passado e que iam ser reparados”.

“O navio partiu de Cuba, do porto de Havana. No sábado, altos funcionários cubanos vieram ao Panamá para uma reunião com o Presidente da República sobre o assunto, mas nessa altura as informações que tínhamos eram de [um carregamento] de droga”, disse o ministro da Segurança do Panamá, José Raul Mulino.

A consultora IHS Jane’s, com sede em Londres, entende, a partir da análise de uma fotografia do material apreendido divulgada na rede social Twitter pela Presidência panamiana, que a bordo do navio seguiria um radar de mísseis terra-ar da era soviética.

O ministério cubano diz que o navio seguia com açúcar e armamento e justifica o envio do armamento para reparação com a necessidade de manter a capacidade defensiva. “Os acordos subscritos por Cuba neste campo assentam na necessidade de manter a nossa capacidade defensiva para preservar a soberania nacional”.

Neil Ashdown, especialista da IHS Jane’s para a região Ásia-Pacífico, admite que Cuba pretendesse modernizar o seu material na país asiático e considerou menos provável que a operação fosse uma forma de reforçar a defesa do Coreia do Norte. 

O Panamá pediu às Nações Unidas e ao Conselho de Segurança para enviarem peritos que examinem o material interceptado. O envio do armamento para a Coreia do Norte pode ser considerado uma violação das sanções impostas pelas Nações Unidas ao país asiático. O governo de Pyongyang ainda não se pronunciou sobre o caso.

O transporte de equipamento militar através do Canal do Panamá obedece a um protocolo especial. Numa ida ao navio, na terça-feira, o Presidente Ricardo Martinelli disse que “o mundo deve saber que não pode ser transportado material bélico não declarado pelo Canal do Panamá”.

Cuba e a Coreia do Norte, formalmente estados comunistas, têm relações próximas. Há pouco mais de duas semanas, a 30 de Junho, o Presidente cubano Raúl Castro recebeu o chefe de Estado Maior do Exército Popular da Coreia do Norte, Kim Kyok Sik. O diário espanhol El País recorda que o encontro foi noticiado pelo jornal do Partido Comunista Cubano, Granma, e que a delegação militar norte-coreana esteve três dias em Havana. Kim Kyok Sik manteve também contactos com diversos dirigentes da cúpula militar cubana.

Os Estados Unidos apoiaram a decisão panamiana de inspeccionar o navio e declararam-se “dispostos a cooperar” com o Governo do Presidente Ricardo Martinelli, um aliado de Washington.

Segundo informação das autoridades panamianas, o capitão do navio tentou suicidar-se quando elementos da fiscalização fizeram uma primeira inspecção ao cargueiro.

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