Croácia é o novo destino de migrantes e refugiados, violência na Hungria

Governo croata garante que vai receber todos, "independentemente da sua religião e da cor da pele". Na fronteira húngara com a Sérvia, a polícia usou gás lacrimogéneo e canhões de água contra os migrantes

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Refugiados a caminho da Croácia Antonio Bronic/Reuters
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A Hungria lançou uma forte ofensiva na terça-feira Marko Djurica/Reuters
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A barreira de arame farpado levantada pela Hungria na fronteira com a Sérvia não foi suficiente para travar a vontade de centenas de refugiados, em fuga da guerra da Síria e da perseguição de grupos extremistas, em alcançar o centro da União Europeia. Confrontado com o protesto de milhares de pessoas desesperadas por passar, o Governo de Budapeste respondeu com canhões de água e gás lacrimogéneo, disparados para o país do lado.

Depois de o primeiro-ministro Viktor Orbán ter tapado todos os buracos que ainda restavam na sua fortaleza contra a entrada de refugiados na Hungria, começaram a ser avistados os primeiros autocarros com migrantes e refugiados na fronteira entre a Croácia e a Sérvia. Ao contrário do discurso do Governo húngaro, o primeiro-ministro croata prometeu abrir as portas a essas pessoas, "independentemente da sua religião e da cor da pele".

Esta quarta-feira, num discurso no Parlamento croata, Zoran Milanovic lançou críticas à decisão do governo da Hungria de impedir a entrada de migrantes e refugiados, referindo-se directamente às vedações erigidas ao longo da fronteira com a Sérvia: "Arame farpado no século XXI não é uma resposta, é uma ameaça", declarou o primeiro-ministro da Croácia, citado pela agência Associated Press.

"Eles poderão passar pela Croácia e nós estamos a trabalhar para isso. Estamos preparados para receber essas pessoas, independentemente da sua religião e da cor da pele, e reencaminhá-las para os seus destinos preferidos, que são obviamente a Alemanha e a Escandinávia", disse Zoran Milanovic, do Partido Social Democrata da Croácia.<_o3a_p>

O primeiro-ministro referia-se a pelo menos 150 pessoas que chegaram nas últimas horas ao país, depois de o governo da Hungria ter declarado o estado de emergência, na terça-feira, para impedir a entrada de refugiados e migrantes – para além de muros e cercas com arame farpado, as autoridades húngaras aprovaram leis que criminalizam a passagem pela fronteira sem documentos. Horas depois, o ministro do Interior, Ranko Ostojic, disse que o número tinha subido para quase 1.200.


Violência policial na fronteira da Hungria 

Ao início da tarde desta quarta-feira, a polícia húngara utilizou gás lacrimogéneo e canhões de água depois de ter sido alvo do lançamento de pedras e garrafas por parte das centenas de migrantes que ainda estão concentrados no lado sérvio da fronteira, junto ao posto fronteiriço de Röszke.

Um jornalista da Reuters testemunhou a chegada à barreira metálica que agora separa a Hungria da Sérvia de centenas de polícias antimotim, apoiados por unidades especiais antiterroristas com veículos blindados e canhões de água. Os migrantes estavam do outro lado da barreira a exigir a abertura da fronteira e as imagens televisivas mostram alguns objectos a ser lançados contra os polícias húngaros.

As autoridades da Hungria justificaram o recurso ao gás lacrimogéneo e aos canhões de água para travar migrantes “agressivos” que estavam a tentar passar a barreira. Um responsável das Nações Unidas que estava no local disse à Reuters que não viu ninguém a tentar saltar ou destruir a barreira.

O Governo da Sérvia expressou o seu “mais veemente protesto” contra a acção da Hungria e o recurso a gás lacrimogéneo na fronteira. Várias pessoas tiveram de receber tratamento médico, a maior parte por causa de intoxicações provocadas pelo gás, mas também por golpes e outros ferimentos. “Fugimos à guerra e conseguimos escapar à violência. Não esperávamos tamanha brutalidade e desumanidade na Europa”, confessava à Associated Press um cidadão iraquiano identificado como Amir Hassan. “Os húngaros são uma vergonha”, gritava, apontando para os polícias que, de outro lado da barreira de arame farpado, disparavam bombas de gás contra a multidão.

Para a Croácia, a caminho da Alemanha
O ministro do Interior croata disse que Zagreb preparou um "plano de emergência para enfrentar um influxo de milhares de refugiados", mas não avançou detalhes. "O Governo irá activar rapidamente esse plano se for necessário", acrescentou.<_o3a_p>

A polícia croata anunciou esta quarta-feira, quando tinha registado apenas cerca de 100 pessoas chegadas, que ia começar a enviá-las para "centros de recepção" nas proximidades da capital, Zagreb. Um porta-voz da polícia, citado pela agência Reuters sob anonimato, confirmou que várias pessoas chegaram à região de Vukovar-Srijem, no extremo Leste do país, separada da Sérvia pelo Danúbio.<_o3a_p>

Um repórter de imagem da agência Reuters disse ter visto pelo menos 100 pessoas a caminhar pelos campos ao longo da fronteira, mais a Sul.<_o3a_p>

A Croácia torna-se assim num novo ponto de entrada para migrantes e refugiados, a maioria proveniente da fronteira entre a Sérvia e a Macedónia – sem possibilidades de entrarem na Hungria, essas pessoas testam agora a fronteira da Croácia, o mais recente membro da União Europeia.

Através da Croácia – que é membro da União Europeia mas não do espaço de livre circulação – as pessoas poderão tentar chegar à Eslovénia,já no espaço Shengen, e daí à Áustria ou à Alemanha. 

Antecipando o afluxo de refugiados, a Eslovénia anunciou esta quarta-feira que vai começar a fazer controlos de identidade selectivos na fronteira com a Hungria, à semelhança do que fez na véspera a Áustria. Segundo a ministra do Interior austríaca, Johanna Mikl-Leitner, a medida pretende acima de tudo passar a mensagem de que o país não pode lidar com o acesso descontrolado de refugiados ao seu território – a mesma responsável garantiu que as entradas estavam a ser autorizadas e que todos os pedidos de asilo seriam devidamente avaliados.

De acordo com os relatos de agências noticiosas, pelo menos 100 pessoas partiram da fronteira entre a Macedónia e a Sérvia em autocarros e chegaram a Sid, na fronteira com a Croácia, numa zona que não é cortada pelo Danúbio. Daí, terão caminhado até à região de Vukovar, a cerca de 30 quilómetros de distância.

Para além de garantir a recepção e uma passagem segura a estes refugiados e migrantes, as autoridades croatas enviaram uma equipa de desminagem para a fronteira com a Sérvia, para prevenir eventuais acidentes com minas colocadas durante a guerra na primeira metade da década de 1990 – entre 1991 e 1995, a zona Leste da Croácia, na fronteira com a Sérvia, foi palco de combates durante a guerra pela independência da Jugoslávia.

Entretanto, a Roménia chamou o embaixador da Hungria em Bucareste para transmitir a sua insatisfação com a decisão do Governo de Viktor Orbán de erguer um novo muro ao longo da fronteira romena. Esta nova barreira, que começou a ser levantada esta-quarta-feira, é mais um projecto “contrário ao espírito europeu”, criticou.

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