Tsipras demite-se e abre caminho a eleições antecipadas na Grécia

Data prevista é de 20 de Setembro. Ministro das Finanças recusa que votação cause instabilidade, argumentando que o país assinou um memorando para três anos.

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Tsipras já depois de anunciar ao gregos a sua demissão Reuters

O primeiro-ministro, grego, Alexis Tsipras, anunciou que se demite do cargo, abrindo caminho a eleições antecipadas, num discurso transmitido pela televisão.

O primeiro-ministro justificou a decisão dizendo que se sente obrigado a ser julgado pelo povo em relação tanto ao que conseguiu como aos seus erros. Nas negociações com a Europa, o Governo não conseguiu o acordo que queria, disse Tsipras, admitindo que não esperava tanta resistência dentro da União Europeia.

O maior partido de oposição, a Nova Democracia (conservador) anunciou que iria usar os três dias que a Constituição lhe confere para tentar fomrar um Governo minoritário. Não era claro se esta tentativa dará frutos ou se será apenas um modo de adiar a data prevista (que seria 20 de Setembro) um pouco mais, já que há um mínimo de um mês para a campanha.

Caso nenhum partido da oposição consiga formar Governo, um executivo interino ficará no poder até à votação, chefiado pela presidente do Supremo, Vasiliki Thanou, que é muito crítica do plano de austeridade. 

Os sinais durante a tarde vinham a indicar que o primeiro-ministro se preparava para optar por eleições antecipadas: Tsipras manteve um encontro com os seus conselheiros, depois de na véspera ter telefonado ao Presidente. Isto acontece depois da aprovação do programa de resgate à Grécia no valor de 86 mil milhões de euros para os próximos três anos no Parlamento alemão, e do Eurogrupo (o grupo dos ministros das Finanças da zona euro) ter dado o OK ao desembolso das duas primeiras tranches num valor de 25 mil milhões.

Desde a votação das medidas de austeridade (necessárias para o acordo com os credores, que deixou dividido o Syriza, o partido de Tsipras), que se fala na possibilidade de eleições antecipadas. O Governo conseguiu os votos a favor de apenas 118 deputados, entre os 162 da coligação do Governo – abaixo da barreira dos 120, necessária para sobreviver a um voto de confiança no Parlamento.

Eleições antecipadas permitiriam formalizar a cisão e a saída da ala antiausteridade do Syriza (a Plataforma de Esquerda), e uma redefinição do mapa do Parlamento, permitindo formar um governo mais forte para aplicar medidas duras.

Ainda não tinham sido anunciadas formalmente as eleições e já vinham sinais de aprovação da Comissão Europeia: o chefe de gabinete de Jean Claude Juncker, Martin Selmayr, escreveu no Twitter que “eleições rápidas na Grécia podem ser um modo de alargar o apoio ao programa de estabilidade assinado por Tsipras em nome da Grécia”.

O analista Dimitris Rapidis, do centro Bridging Europe, diz que fontes em Bruxelas estão confiantes de que Tsipras vencerá as eleições e irá juntar-se com outros partidos pró-europeus.

Sem rivais
No final de Julho, data das últimas sondagens, o Syriza continuava de longe a ser o partido com mais intenções de voto – entre 36% e 42%, mais do que nas eleições de Janeiro, quando conseguiu 36,6%. Era seguido de longe pelos rivais Nova Democracia – 21% a 26%, em Janeiro teve 27,8% –, estando o partido pró-europeu To Potami a lutar pelo terceiro lugar com os neonazis da Aurora Dourada.

Tsipras não tem rivais à altura e a sua popularidade era, na mesma altura, de 61%. A Nova Democracia tem um líder interino, e as suas vozes mais importantes nem sempre têm estado em concordância.

A Plataforma de Esquerda sairá do Syriza, mas terá muito pouco tempo para se organizar como partido e disputar as eleições. Até dia 9 os partidos terão de apresentar as suas listas. Dimitris Stratoulis, da facção anti-austeridade, disse que não podia ainda confirmar se o ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis ou a presidente do Parlamento Zoe Konstantopoulou se juntariam a este novo partido.

Há quem aponte todos os problemas de ter eleições: em seis anos, a Grécia terá tido cinco primeiro-ministros diferentes (incluindo dois interinos) e três programas de empréstimo.

Como as eleições precederiam tempos ainda mais difíceis,Tsipras poderia ainda ter a vantagem dos efeitos das medidas não estarem a ser totalmente claros. Mas também seriam realizadas antes da discussão do alívio da dívida, a principal pretensão do executivo grego, que, no entanto, não a conseguiu assegurar no acordo. Obteve apenas a promessa da sua discussão com a primeira revisão no Outono.

Para o jornalista do site de análise Macropolis Nick Malkoutzis, as alternativas a eleições eram “questionáveis”: “a verdade é que a actual situação (divisão no Syriza e apoio relutante da oposição) não é sustentável”, comentou. A única questão era mesmo o timing: antes ou depois da primeira revisão do programa.

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