Coreia do Norte nega autoria de ataque informático contra o Sul

Porta-voz do Exército classifica suspeitas como "provocações intencionais".

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O ataque do mês passado afectou os servidores de três estações de televisão e três bancos AFP/HO/KBS

A Coreia do Norte reagiu esta sexta-feira pela primeira vez à suspeita de que foi responsável pelo ataque informático do mês passado contra três estações de televisão e três bancos sul-coreanos. Para Pyongyang, as acusações não passam de “provocações intencionais”.

Um porta-voz do Exército da Coreia do Norte, citado pela agência sul-coreana Yonhap, classifica as suspeitas como "rumores que têm como objectivo agravar a tensão na península".

No dia 20 de Março, os sistemas informáticos das estações sul-coreanas KBS, MBC e YTN e de três entidades bancárias foram atacados. O ataque paralisou servidores destas empresas e alguns terminais de levantamento de dinheiro. Apesar disso, as emissões televisivas prosseguiram sem qualquer interrupção.

Na altura, o Ministério da Defesa sul-coreano disse ser "prematuro afirmar que a Coreia do Norte está envolvida, mas também não é de excluir" essa hipótese.

Os especialistas de agências de segurança nacional e analistas de empresas de cibersegurança consultados pelos media internacionais não conseguiram chegar a nenhuma conclusão. A única certeza é que o ataque informático passou por um endereço localizado na China e foi provocado por um programa malicioso que apagou os dados de mais de 32.000 computadores.

A configuração do ataque deixou mais perguntas do que respostas, e isso é algo a que terão de se habituar os curiosos por notícias sobre a possibilidade de estar em curso uma ciberguerra.

Para Charlie Miller, antigo especialista da Agência Nacional de Segurança norte-americana, "se isto foi um verdadeiro ciberataque, então foi um falhanço abissal". Ouvido pelo Christian Science Monitor, Miller explicou a sua controversa opinião: "Se o objectivo era mandar abaixo os sistemas dos bancos ou das estações de televisão, isso não aconteceu. Para além disso, a Coreia do Norte gosta de demonstrar o seu poderio e de assumir a autoria. Parece-me que este ataque foi provocado por um programa malicioso instalado por um hacker sul-coreano — a fazer  aquilo que os hackers costumam fazer —, ou foi um teste que não tinha como objectivo provocar problemas sérios mas sim testar as capacidades para um hipotético ataque no  futuro."

Richard Bejtlich, da empresa Mandian, disse ao Los Angeles Times que "este ataque não foi nada sofisticado": "As pessoas usam este tipo de vírus ou porque são imaturas ou por despeito."

Apesar de o banco Shinhan ter ficado sem sistema durante duas horas, não há notícia de que alguma informação relativa aos clientes tenha sido afectada, e nenhuma das estações de televisão atacadas — a YTN, a MBC e a KBS — se viu impedida de se manter no ar.

Outros especialistas apresentaram uma versão completamente diferente, numa demonstração da dificuldade em atribuir a responsabilidade seja a quem for. "A maioria dos hacktivistas quer chamar a atenção sem provocar problemas sérios, mas este ataque parece ter sido realizado com a intenção de destruir redes informáticas", defendeu Anup Ghosh, presidente da empresa de cibersegurança Invincea, também em declarações ao Christian Science Monitor. Ou isso, ou então: "Não podemos excluir hacktivistas, mas este ataque tem as marcas dos ataques contra a [companhia petrolífera] Saudi Aramco. Parece um ataque encapotado, lançado por um Estado, a tentar esconder-se por trás da ideia de que a responsabilidade é de um grupo de hackers."

Martyn Williams, autor do blogue North Korea Tech, resumiu a confusão: "Os norte-coreanos podem fazer isto, mas muitas outras pessoas também. Mesmo que não tenham sido os norte-coreanos, é possível fazer com que a responsabilidade pareça ser deles. São o bode expiatório perfeito."

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