Corbyn enfrenta o primeiro grande teste eleitoral

Labour tenta evitar maus resultados na Escócia e nas eleições locais inglesas. Mas a polémica do anti-semitismo dificulta a tarefa.

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Não é provável que alguém avance neste momento contra a liderança de Corbyn Stefan Wermuth/Reuters

A escolha do mayor de Londres é a mais mediática entre as inúmeras votações que levam nesta quinta-feira os britânicos às urnas – além das eleições locais em Inglaterra, onde estão em disputa mais de 2700 lugares em 124 concelhos municipais, serão eleitos os parlamentos autónomos da Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, além dos novos comissários de polícia.

Na semana passada, o jornal Guardian sentenciava que as autonomias evoluíram de tal forma que “não existe já nada a que se possa chamar política britânica” – seguindo um rumo traçado pela Irlanda do Norte, a política escocesa seguiu nos últimos anos um caminho oposto ao de Londres e mesmo Gales rege-se por tempos que são diferentes de Inglaterra. Ainda assim, serão feitas leituras nacionais dos resultados e é o líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn quem aguarda com maior ansiedade o veredicto.

Um mau resultado dos conservadores nas eleições locais será certamente incómodo para o primeiro-ministro, David Cameron, num momento em que está totalmente dedicado a vencer o referendo de Junho à União Europeia, cuja campanha decorreu em simultâneo. Mas este será o primeiro teste eleitoral nacional para Corbyn, representante da ala mais à esquerda do Labour e que os opositores internos dizem ser demasiado radical para vencer eleições.

O partido divide-se em relação àquilo que é um bom resultado. Mas há claramente fasquias abaixo das quais Corbyn não poderá ficar, mesmo que seja improvável que alguém avance neste momento contra a sua liderança. E aqui as atenções estarão postas na Escócia, onde há a hipótese de o partido ficar em terceiro lugar, atrás dos conservadores e a grande distância dos nacionalistas que, sob a liderança de Nicola Sturgeon, esperam reforçar a maioria absoluta que conquistaram em 2012. No País de Gales, o Labour tenta não perder a maioria que lhe permite governar sozinho e nas eleições locais inglesas está sob forte pressão para manter os ganhos feitos em 2012 por Ed Miliband – uma deputada centrista chegou a dizer que perder um único council “seria uma traição”.

Mas a tarefa tornou-se ainda mais complicada perante as acusações de anti-semitismo que se abateram sobre vários dirigentes do partido – uma tempestade que o antigo mayor de Londres Ken Livingstone alimentou ao afirmar que Hitler foi sionista “antes de enlouquecer e matar seis milhões de judeus”. Há muito que a ala mais à esquerda do Labour, activa defensora da causa palestiniana, é acusada de proferir afirmações anti-semitas.

Mas a recusa de Livingstone em se retractar e com os conservadores a não deixarem cair a polémica na recta final das eleições – tema que acreditam pode ser sobretudo prejudicial a Sadiq Khan, candidato trabalhista a mayor de Londres – Corbyn foi forçado a ordenar um inquérito interno. O que bastou para pôr um ponto final no assunto. Num ataque sem quartel, foi nesta quarta-feira ao Parlamento exigir a Corbyn que esclarecesse se no passado chamou “amigos” a grupos como o Hamas ou o Hezbollah. “São seus amigos ou não? É porque estamos a falar de organizações que têm nos seus manifestos a perseguição e morte de judeus”.

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