Contra o populismo nacionalista

Uma parte das elites catalãs descobriu no independentismo uma saída para evitar a sua responsabilidade pela crise.

"Por que razão não pode a Catalunha votar?", perguntou num artigo recente no PÚBLICO o presidente do governo autónomo da Catalunha, Artur Mas. Os nacionalistas catalães repetem esta pergunta frequentemente, para tentar confundir as suas reivindicações com o ideal democrático.

Perante esta pergunta, a primeira coisa a recordar é que nós, catalães, já votámos em muitas ocasiões. O movimento independentista, que obteve sempre resultados minoritários, só ganhou força por aproveitamento da crise. Como o filósofo J. Habermas disse recentemente, o auge do independentismo catalão assemelha-se ao de outros nacionalismos europeus e de movimentos populistas, que oferecem explicações e soluções simples para problemas complexos.

Uma parte das elites catalãs descobriu no independentismo uma saída para evitar a sua responsabilidade pela crise. O partido do sr. Mas, Convergència Democràtica de Catalunya, está a ser investigado por corrupção e tem utilizado a sua sede como fiança judicial. O presidente da Catalunha durante 23 anos e padrinho político do sr. Mas, Jordi Pujol, confessou recentemente um delito de evasão fiscal e a sua família está sob investigação por suspeita de ter acumulado uma fortuna durante o seu mandato. Embora se apresente como um indefeso David contra o Estado espanhol, o nacionalismo catalão tem uma estrutura de poder forte e comporta-se como um Golias que marginaliza as vozes críticas.

Os catalães gozam de uma ampla autonomia dentro do Estado espanhol: "autodeterminaram-se" em áreas como a Saúde, a Educação e Cultura, a Segurança, etc. Esse tipo de autonomia (sempre susceptível de ser melhorado) é a melhor solução para um país complexo. Uma Europa em que todas as comunidades que tenham uma identidade distinta tivessem direito a um Estado independente seria ingovernável. A maioria das Constituições dos países democráticos não reconhece a possibilidade de secessão. Se admitíssemos essa possibilidade, a convivência e a solidariedade não seriam possíveis: os nossos Estados seriam permanentemente ameaçados pela chantagem de minorias. Apesar da sua intensa propaganda, o movimento de independência da Catalunha só poderia obter uma fraca e circunstancial maioria numa região do Estado, que não pode pôr em causa a própria existência desse mesmo Estado.

Um referendo sobre a independência, que criaria na sociedade uma enorme tensão e submeteria as pessoas a um dilema radical, não é solução. Os casos do Quebeque e da Escócia demonstram-nos que os independentistas só aceitam o resultado se este for favorável à sua posição, e, se não o for, continuam com as suas pretensões por outros meios ou exigem novos referendos.

O nacionalismo catalão disfarça-se de modernidade democrática, mas baseia-se em preconceitos contra o resto da Espanha, falseia a história, promove o egoísmo fiscal e implementa um projecto de engenharia social para homogeneizar a identidade dos catalães. A independência não acabaria com qualquer conflito, mas geraria outros ainda mais graves. Basta recordar que o nacionalismo catalão tem ambições expansionistas sobre territórios que pertencem ao resto da Espanha e à França.

A associação a que tenho a honra de presidir, Societat Civil Catalana, nasceu para dar voz a uma maioria de catalães que também se sentem espanhóis e que não querem a divisão, mas que são menos visíveis e estão menos mobilizados do que os nacionalistas. Defendemos uma democracia autêntica, baseada no respeito pela pluralidade e pela convivência, e que respeite o Estado de direito. Por defender esses valores, o Parlamento Europeu concedeu-nos o Prémio do Cidadão Europeu de 2014. Estou certo de que no futuro iremos continuar a receber o apoio de outros cidadãos europeus.

Presidente da Societat Civil Catalana

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