Confrontos na Turquia podem marcar "Verão do descontentamento"

Um protesto contra a remodelação da emblemática Praça Taksim, em Istambul, degenerou em manifestações e confrontos em Ancara e Esmirna.

Os confrontos fizeram pelo menos 12 feridos, um deles com gravidade
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Os confrontos fizeram pelo menos 12 feridos, um deles com gravidade BULENT KILIC/AFP
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Homem ferido na Praça Taksim Ozan Kose/AFP
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Manifestante segura um cartaz em que se lê "Tayyip Químico" BULENT KILIC/AFP
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Polícia usou gás lacrimogénio para tentar afastar manifestantes BULENT KILIC/AFP
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Mulher ferida deitada na Praça Taksim, principal palco dos confrontos em Istambul Ozan Kose/AFP
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Muitos tentaram proteger-se como podiam da resposta da polícia BULENT KILIC/AFP
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Polícia antimotim interveio na capital turca BULENT KILIC/AFP
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As três maiores cidades turcas foram nesta sexta-feira palco de manifestações contra o Governo de Recep Tayyip Erdogan, depois de a polícia antimotim ter dispersado milhares de pessoas que protestavam em Istambul contra os planos de remodelação do Parque Gezi, na emblemática Praça Taksim.

A causa directa do dia de confrontos violentos entre a polícia e manifestantes em Istambul, Ancara e Esmirna foi o protesto na Praça Taksim, mas o alvo é o Governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento.

"Isto já não é só por causa de árvores, é sobre a pressão exercida por este Governo. Estamos fartos, não gostamos da direcção que este país está a tomar", disse à Reuters Mert Burge, um estudante de 18 anos. "Vamos ficar aqui durante a noite, mesmo que tenhamos de dormir no chão", garantiu. A remodelação da Praça Taksim, projectada pelo Governo, implica, de acordo com a oposição, a destruição de um dos poucos espaços verdes da cidade.

Koray Caliskan, cientista político na Universidade do Bósforo, fala mesmo no "início de um Verão do descontentamento". "Não temos um governo, temos [o primeiro-ministro] Tayyip Erdogan. Até mesmo os apoiantes do AKP [Partido da Justiça e do Desenvolvimento, no poder] dizem que eles perderam a cabeça, que não estão a ouvir-nos", queixou-se.

A fúria é dirigida contra Erdogan e o seu partido islâmico, que tem aprovado medidas vistas pelos sectores mais moderados como verdadeiros atentados à liberdade.

Na sexta-feira passada, a oposição turca acusou o partido no poder de violar as liberdades individuais ao aprovar, no Parlamento, uma lei que limita o consumo de álcool, a sua venda e a publicidade a bebida alcoólicas. O documento foi votado na noite de quinta-feira da semana passada, depois de um debate aceso mas muito rápido. A lei foi aprovada em nome da saúde dos cidadãos, mas a oposição argumentou que os motivos são religiosos. A lei determina que a venda de álcool é proibida entre as 22h e as 6h e proíbe a venda nos arredores de escolas e mesquitas.

A Turquia é um país de maioria islâmica mas considerado moderado. Esta lei sobre o álcool é vista pela oposição como um sinal de que essa moderação pode começar a esbater-se e que o Governo e a maioria no Parlamento estão dispostos a "islamizar" a sociedade turca.

Para este fim-de-semana estão programados também "protestos de beijos" em Istambul e Ancara, depois de a polícia ter repreendido um casal que se beijava em público, há uma semana.

"Uso excessivo da força"
Nesta sexta-feira, o que começou por ser um protesto contra a remodelação na Praça Taksim, em Istambul, degenerou em violência e pedidos de demissão do Governo quando a polícia carregou sobre os manifestantes, que acampavam no espaço desde terça-feira.

Também em Ancara, milhares de pessoas pediram a demissão de Erdogan e do seu partido, depois de a polícia ter dispersado um grupo de opositores que tentavam entrar na sede do Partido da Justiça e do Desenvolvimento.

Uma mulher de nacionalidade turca, mas de origem palestiniana, ficou ferida com gravidade e foi operada devido a uma hemorragia cerebral. Ao todo, 12 pessoas ficaram feridas, entre as quais um deputado pró-curdo e um fotógrafo da agência Reuters.

A Amnistia Internacional mostrou-se preocupada com o que considera ser o "uso excessivo da força" pela polícia, em resposta a um "protesto que começou por ser pacífico". O ministro do Interior, Muammer Guler, prometeu investigar a actuação da polícia.

Nos dez anos que leva no poder, Recep Tayyip Erdogan conseguiu fomentar o desenvolvimento económico, o que ainda lhe vale o estatuto de político mais popular na Turquia. Mas nos últimos anos, centenas de oficiais militares têm sido detidos sob a acusação de estarem a preparar um golpe de Estado, tal como muitos académicos, jornalistas e políticos.
 
 

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