Nova face da extrema-direita alemã consolida viragem este fim-de-semana

Congresso do Alternativa para a Alemanha começou com atraso devido a confrontos entre a polícia e manifestantes de esquerda. Partido vai aprovar propostas islamófobas e defende regresso aos "valores alemães".

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Manifestantes contra a AfD em Estugarda Philipp GUELLAND/AFP

No início, o Alternativa para a Alemanha (AfD) era apenas um partido descontente com a política monetária da União Europeia que se opunha aos empréstimos a países como a Grécia e Portugal, mas no Verão do ano passado pegou na bandeira anti-refugiados e desde então pôs em sentido os partidos mais tradicionais, com resultados surpreendentes em eleições regionais. Este fim-de-semana, num congresso que está a decorrer em Estugarda, deverá concluir a sua viragem para um partido abertamente racista, apesar de a sua já carismática líder insistir em negar esta acusação.

"Sempre nos questionámos sobre quando surgiriam finalmente os filhos corajosos que iriam verbalizar os pensamentos da maioria silenciosa, e que iriam declarar que a 'chanceler da nenhuma alternativa' vai nua. Acredito que esses filhos corajosos somos nós", declarou, na abertura do congresso, a líder do AfD, Frauke Petry, uma doutorada em Química de 40 anos que nasceu na antiga Alemanha de Leste e que se tornou nos últimos meses na face mais visível da extrema-direita alemã.

Horas antes de Petry ter subido ao palanque, centenas de manifestantes conotados com movimentos de esquerda envolveram-se em confrontos com a polícia e com apoiantes do partido – mais de 400 foram detidos por terem bloqueado estradas com pneus a arder e arremessado pedras contra as mais de 2000 pessoas que acabariam por entrar no centro de congressos.

A reunião magna do partido começou mais tarde do que o previsto, mas os primeiros discursos e declarações deixaram poucas dúvidas sobre o caminho que o AfD vai seguir – o do regresso aos "valores nacionais", onde a "família tradicional" voltará a ter um papel fundamental para reverter a queda da natalidade.

A discussão pública sobre as propostas que vão ser discutidas este fim-de-semana no congresso do partido centrou-se na proibição do uso do niqab e da burqa em público, na interdição dos minaretes e nos cortes de benefícios fiscais para organizações muçulmanas – um pacote de propostas que levam os críticos do partido a colocarem-no na lista de organizações islamófobas, e que reforça a aproximação a outras forças do género na Europa, como a Frente Nacional francesa, o Partido da Liberdade da Áustria e o Partido da Liberdade holandês.

Mas o documento que vai ser discutido no congresso entre sábado e domingo foi divulgado antes do tempo no site da organização alemã sem fins lucrativos Correctiv.org, e noticiado um pouco por toda a Europa na semana passada – a acreditar no seu conteúdo, o partido de extrema-direita tem propostas que discriminam crianças com deficiência, mães solteiras e pessoas com perturbações mentais. Segundo o jornal britânico The Independent, o AfD quer mesmo "obrigar os professores de História a porem fim ao que consideram ser um 'excesso de ênfase' na era nazi". Entre os exemplos avançados pelo jornal estão a redução da idade de responsabilidade criminal dos 14 para os 12 anos; a proposta de não incluir crianças com deficiência nas escolas públicas "a todo o custo", para não prejudicar os progressos dos outros alunos; a proibição do aborto; e a introdução de mais entraves ao divórcio.

O AfD foi fundado em Abril de 2013 pelo economista Bernd Lucke como um partido anti-euro, mas as políticas de abertura aos refugiados defendida pela chanceler Angela Merkel levaram-no a aproveitar o descontentamento de uma parte da população alemã – mais de 70% dos seus apoiantes são homens de idade mais avançada que se sentem ameaçados com a constante chegada de refugiados sírios e outros migrantes ao país, principalmente depois da entrada de mais de um milhão de pessoas nessa situação só em 2015.

Depois dessa viragem, o fundador do partido afastou-se, acusando-o de adoptar um discurso racista, e abriu lugar à entrada de Frauke Petry. A nova líder ganhou notoriedade no início do ano, depois de ter defendido que a polícia de fronteira "devia poder usar as suas armas de fogo se fosse necessário" para impedir os refugiados de entrar na Alemanha.

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