Condenados os cinco suspeitos pela morte de Nemtsov

Decisão do tribunal de Moscovo confirma tese “islamista” do homicídio do político oposicionista russo.

Foto
Zaur Dadaiev disse que foi coagido a assinar uma confissão pelo homicídio de Nemtsov Tatyana Makeyeva / Reuters

Os cinco homens detidos na sequência das investigações à morte do político da oposição russa, Boris Nemtsov, foram declarados culpados nesta terça-feira pelo tribunal municipal de Moscovo.

O tribunal decidiu que os cinco suspeitos, originários das repúblicas russas da Tchetchénia e da Inguchétia, são culpados por terem cometido um homicídio “encomendado”. Foi na noite de 27 de Fevereiro que Boris Nemtsov foi baleado enquanto caminhava numa rua próxima do Kremlin, no centro de Moscovo.

Na semana seguinte, as autoridades russas fizeram cinco detenções de pessoas originárias das duas repúblicas russas do Cáucaso. Um sexto homem suicidou-se na Tchetchénia, fazendo rebentar uma bomba quando estava cercado pela polícia. Um dos detidos, Zaur Dadaiev, foi identificado como um antigo subcomandante de um batalhão da polícia tchetchena e foi o único que confessou a autoria do crime.

Porém, soube-se mais tarde que Dadaiev poderá ter sido coagido a assinar uma confissão – o homem de 31 anos apresentava vários ferimentos consistentes com práticas de maus-tratos, segundo o Conselho Consultivo para os Direitos do Homem. Dadaiev contou também que passou dois dias algemado e com um saco de pano enfiado na cabeça e que a confissão foi feita apenas para que um amigo pudesse sair em liberdade.

Não foram revelados muitos pormenores sobre a investigação, mas tudo leva a crer que tenham sido motivações religiosas que guiaram os autores do homicídio de Nemtsov. Logo após a detenção de Dadaiev, o líder tchetcheno, Razman Kadirov, fez uma publicação no Instagram em que confirmava a identidade do suspeito e o descrevia como “uma pessoa extremamente religiosa”.

Kadirov, um antigo comandante rebelde que foi colocado no poder na Tchetchénia pelo Kremlin em 2007, deu a entender que Dadaiev terá ficado “muito chocado” com as declarações de apoio aos caricaturistas do semanário satírico francês Charlie Hebdo, cujas instalações foram alvo de um atentado terrorista no início de Janeiro.

A condenação de Dadaiev e dos outros quatro suspeitos detidos vem confirmar a tese que prevaleceu quanto à responsabilidade pela morte de Nemtsov. Na segunda-feira, o jornal russo Kommersant revelou que as autoridades encarregadas pela investigação já identificaram a pessoa que encomendou o homicídio e que forneceu as armas e o carro que foram utilizados naquela noite.

Porém, os aliados do antigo vice-primeiro-ministro recusam-se a subscrevê-la e encaram-na como a explicação mais conveniente para o Governo russo.

Nemtsov tinha perdido algum destaque na vida política da oposição ao Presidente, Vladimir Putin, mas eram conhecidas as suas posições altamente críticas sobre a alegada intervenção militar russa na Ucrânia. Quando foi morto, Nemtsov preparava-se para tornar público um conjunto de provas materiais que tinham o objectivo de demonstrar que o Exército regular russo tem participado no conflito no Leste da Ucrânia, ao lado das forças separatistas. Estas acusações – defendidas pelo Governo ucraniano, pela NATO, pela União Europeia e pelos Estados Unidos – sempre foram negadas por Moscovo.

Sugerir correcção
Ler 35 comentários