Como é que as sondagens no Reino Unido puderam estar tão erradas?

A maioria absoluta dos conservadores ultrapassou em muito as sondagens da véspera. Mas as razões dos desvios são, até ao momento, insondáveis.

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As razões por detrás do falhanço das sondagens são ainda, em grande parte, desconhecidos Eddie Keogh/Reuters

Quando os resultados das sondagens à boca das urnas foram divulgados na noite de quinta-feira, tornou-se imediatamente evidente que as sondagens pré-eleitorais tinham errado significativamente. Aquelas que deveriam ter sido das eleições mais renhidas na história do Reino Unido tornaram-se uma vitória retumbante do Partido Conservador, que atingiu a maioria no Parlamento de Westminster.

Na quinta-feira, a previsão do diário britânico The Guardian, que fez a média de todas as sondagens, apontava para os conservadores terem 276 deputados, contra 269 dos trabalhistas. Na realidade, com os votos todos contados, o partido de David Cameron ganhou 331 deputados. O Partido Trabalhista apenas 232. Todas sondagens sobrestimaram o voto nos trabalhistas e liberais e fizeram o contrário com os conservadores. 

Não sabe ao certo quais foram os erros que levaram às previsões falhadas destas eleições. Os motivos são de tal forma desconhecidos que, ao início da tarde desta sexta-feira, o Conselho de Sondagens Britânico anunciou que seria lançado um inquérito para se chegar às causas dos erros.

Mas erros, a havê-los, podem não ter acontecido apenas nestas eleições britânicas. Ao longo dos últimos anos têm-se multiplicado os casos de sondagens pré-eleitorais que falharam o alvo.

Aconteceu mais recentemente com as eleições legislativas em Israel, em que as sondagens projectavam um empate técnico entre o Likud de Netanyahu e o União Sionista, de Isaac Herzog. No final de contas, o primeiro-ministro israelita selou uma vitória clara: em vez do antecipado empate de 27 lugares no Parlamento, Netanyahu conseguiu 30 assentos e o União Sionista apenas 24.

Mas os casos não se ficam por aqui. As sondagens erraram também na antecipação do referendo pela independência na Escócia – aqui, em todo o caso, caminhava-se por terreno desconhecido – e, antes, nas últimas eleições intercalares norte-americanas e nas próprias presidenciais nos Estados Unidos em 2012.

O proclamado guru norte-americano das estatísticas, Nate Silver, diz que pode haver um problema no próprio sistema mundial de sondagens, particularmente no que toca à identificação dos grupos representativos. No seu site especializado em sondagens, o FiveThrityEight, Nate Silver explica uma das razões pelas quais as sondagens – e ele próprio – erraram nestas eleições.

“As sondagens, no Reino Unido e em outros sítios do mundo, parecem estar a ficar piores à medida que se torna mais complicado contactar uma amostra representativa de eleitores”, escreve Silver. Por enquanto, diz o especialista, a solução deve passar por “contabilizar uma maior margem de erro”.

Mas o sistema eleitoral britânico teve também um papel importante no falhanço das eleições. Com apenas mais 0,5 pontos percentuais do voto total, o Partido Conservador conseguiu mais 26 assentos no Parlamento do que em 2010. E o Partido Trabalhista, que aumentou o voto total em 1,5 pontos, perdeu 25 deputados.

Stephen Fisher lançou as sondagens que mais próximas ficaram dos resultados conhecidos nesta sexta-feira. A última sondagem de Fisher dizia que os conservadores conseguiriam 285 deputados, contra 262 dos trabalhistas. Em todo o caso, muito afastadas dos resultados finais. 

Fisher diz que a surpresa desta sexta-feira se deve, em parte, ao regime de proporcionalidade eleitoral no Reino Unido, um argumento que é também utilizado por Nate Silver. Ou, mais especificamente, "com o colapso dos trabalhistas na Escócia, inadequadamente compensado com ganhos modestos em Inglaterra e País de Gales”.

No campo contrário, diz Fisher, e numa escala menor, “os conservadores beneficiaram desproporcionalmente, em assentos [no Parlamento], mesmo que não em votos, com o colapso dos Liberais Democratas”.  

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