Ninguém está disposto a desistir de um acordo sobre o nuclear iraniano

Os prazos vão sendo esgotados e alargados para não deitar fora os melhores progressos em dez anos. Em Viena, há grandes movimentações diplomáticas. "Vamos avançar mais", disse o chefe da diplomacia de Teerão.

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É preciso aproveitar "esta oportunidade" para "fazer progressos", disse John Kerry em Viena, na Áustria Leonhard Foeger/Reuters

Um alto responsável partiu para Teerão, outro voltou de lá; sucedem-se as declarações positivas. A diplomacia está em acelaração, mas a verdade é que não se sabe em que ponto estão as negociações entre o grupo 5+1 e Teerão sobre o programa nuclear iraniano.

Certo é que nenhuma das partes quer arriscar um passo que leve ao fracasso, como ficou claro nas declarações desta quarta-feira do secretário de Estado americano — marcada que foi uma nova data para a conclusão dos trabalhos, 7 de Julho, John Kerry apressou-se a dizer que não se trata de um novo prazo, apenas uma referência, e que as negociações continuam.

"Não é o estabelecimento de uma data limite. Vamos continuar", disse o secretário americano. As datas têm vindo a ser sucessivamente adiadas, a anterior era 30 de Junho.

"Fizémos progressos e vamos avançar mais", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Zarif, que no fim-de-semana saiu de Viena (Áustria), onde decorrem os trabalhos, para a ir a Teerão receber novas indicações. Nesta quarta-feira, foi a vez do chefe da Agência Internacional de Energia Atómica, o japonês Yukiya Amano, ir a Teerão reunir com o Presidente Hassan Rohani. E os chefes da diplomacia francesa, chinesa e europeia, Laurent Fabius, Wang Yi e Federica Mogherini (que lidera as negociações, se bem que nos últimos dias Yukiya Amano assumiu maior protagonismo, como pedira a agência que lidera), chegam esta quarta-feira à capital austríaca.

"Vamos aproveitar esta oportunidade para fazer progressos", disse também John Kerry. Nunca, nas negociações com Teerão que duram há dez anos, se chegou tão longe como desta vez. A ser assinado este acordo terá um alcance muito maior do que apenas a questão nuclear. Significará a reaproximação de dois países inimigos há 35 anos (EUA e Irão) e o fim do isolamento de Teerão (um país xiita) e o seu regresso à arena política regional e internacional, para receio dos regimos sunitas vizinhos e irritação de Israel. Esta potencial mudança no tabuleiro regional também é, segundo os analistas, um dos "pormenores" a travar o passo do acordo definitivo.

Um acordo de princípio — classificado de histórico — já foi alcançado, em Abril, em Lausana (Suíça). Agora as partes (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China mais Alemanha e Irão) procuram um entendimento de pormenor, igualmente difícil. "Há temas difíceis que devem ser resolvidos e não sabemos se seremos capazes de chegar lá", disse ao El País uma fonte da delegação americana.

O documento de Abril estabelece um limite para o urânio que o Irão pode enriquecer e armazenar — abaixo dos valores necessários para o fabrico de uma bomba nuclear. É isto que quer impedir o grupo 5+1, que receia que Teerão esteja a desenvolver um programa militar nuclear, apesar de o Irão o ter negado sempre.

Os Estados Unidos e os seus aliados neste grupo de negociações exigem ter acesso ilimitado às instalações nucleares iranianas, incluindo as militares. Porém, o líder espiritual iraniano, o ayatollah Ali Khamenei, rejeitou essa cláusula. O 5+1 quer também manter as sanções contra o Irão até ter a certeza de que o acordo está a ser cumprido, e pretende deixar escrito que as sanções serão repostas automaticamente caso se considere que há violações. Teerão pretende o fim imediato das sanções que, há décadas, estrangulam a economia do país.

A questão das sanções é um ponto essencial uma vez que os EUA e outros países receiam que, caso pretendam voltar a punir economicamente o Irão, e se for necessário nova votação no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Rússia e a China optem agora por as vetar.

Apesar das palavras de Kerry, de que a data de 7 de Julho é apenas um indicador, em Washington o Presidente Barack Obama, que fez deste acordo uma das prioridades do seu segundo e último mandato, começa a ficar com o calendário comprometido. O Governo comprometeu-se com a apresentação no Congresso do texto do acordo a 9 de Julho, tendo este um mês para o debater e votar. Perante um órgão legislativo hostil a Obama e aos termos deste acordo (dominam os republicanos), Obama precisa de um documento que, mesmo não estando completo, arranque compromissos definitivos aos iraquianos. O Presidente já avisou que não aceitará "um mau acordo"

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