Cientistas italianos vão a julgamento por terramoto em L'Aquila

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Presidente norte-americano, Barack Obama, e primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, visitam os destroços do sismo de 2009 Jason Reed/Reuters

Começa hoje o julgamento de sete italianos – seis cientistas e um antigo funcionário do Governo – acusados de homicídio involuntário por terem subestimado a magnitude do sismo que atingiu a localidade italiana de L’Aquila em Abril de 2009.

O terramoto de 6,3 graus na escala de Richter provocou a morte de 309 pessoas e destruiu o centro histórico da localidade. A justiça acusa os arguidos de não terem informado a população sobre o risco que corriam para que pudessem tomar medidas para se protegerem e de terem proferido um falso discurso reconfortante pouco antes da ocorrência do sismo.

Entre os sete acusados estão grandes figuras da ciência em Itália, como o professor Enzo Boschi, até recentemente presidente do Instituto Nacional de Geofísica, e o professor de física Cláudio Eva.

A defesa argumenta que não existe forma de prever um grande terramoto mesmo numa área com grande actividade sísmica. “Não se pode julgar a ciência”, disse Alfredo Biondi, advogado do professor Eva, recordando que o cliente havia declarado apenas seis dias antes do terramoto que “ninguém pode excluir a possibilidade de um sismo de grande magnitude”. Porém, estas declarações foram feitas durante uma Comissão de Grandes Riscos, que teve lugar a 31 de Março de 2009, na própria localidade de L’Aquila.

Segundo os advogados, na altura foi também recomendada uma aplicação de medidas anti-sísmicas mais rigorosa, especialmente na construção civil. No entanto, na noite do terramoto, muitas pessoas ficaram em casa, acabando por morrer.

Os sete acusados são suspeitos de “negligência e imprudência” e de “haver realizado uma avaliação de riscos em relação às actividades sísmicas genérica e ineficaz, cheia de informações incompletas, imprecisas e contraditórias”. Se forem condenados, poderão enfrentar uma pena de prisão até 15 anos, assim como o pagamento de quase 22 milhões de euros por danos.

O caso tem atraído a atenção da comunidade científica, que no ano passado juntou 5000 assinaturas de cientistas numa carta aberta dirigida ao Presidente italiano Giorgio Napolitano para apoiar os acusados.

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