Cidade de soldado americano libertado cancela festa de boas-vindas

Responsáveis de Hailey, no Idaho, recebem mensagens de ódio contra festa de boas-vindas planeada para o regresso de Bowe Bergdahl, suspeito de ser um desertor.

Foto
Bowe Bergdahl já não vai ter uma festa à sua espera Patrick Sweeney/Reuters

Hailey, uma pequena cidade do estado norte-americano do Idaho, cancelou a festa de boas-vindas que tinha planeado para o regresso de Bowe Bergdahl, o soldado libertado dos taliban, dizendo que o evento estava a concitar demasiada atenção e que a cidade não tinha meios para lidar com a multidão. As mensagens de ódio chamando-lhe desertor deixaram assustados responsáveis de Hailey.

A pequena cidade de oito mil pessoas onde Bowe Bergdahl nasceu e cresceu começou a suscitar atenção inesperada depois de os media nacionais começarem a fazer eco da teoria de que o militar teria desertado da sua unidade no Afeganistão. Bergdahl, resgatado após um acordo em que cinco presioneiros em Guantánamo foram libertados pelos EUA, tinha-se ausentado do seu posto quando foi apanhado pelos taliban. Uma onda de comentadores têm-se referido às circunstâncias do desaparecimento para criticar ainda mais a Administração Obama por esta ter negociado uma troca de prisioneiros com os taliban.

O chefe da polícia de Hailey, Jeff Gunter, disse que o evento nunca tinha pretendido ser uma festa ao regresso de um “herói”, mas sim de boas-vindas a alguém que a cidade queria ver de volta. Todos os anos desde que Bergdahl foi levado por combatentes taliban, a 28 de Junho de 2009, Hailey marcava o dia com um evento sob o mote “Tragam Bowe de volta”. Este ano, o evento transformar-se-ia em recepção de boas-vindas ao soldado. Mas Gunter conta que recebeu um telefonema de outro responsável da polícia do estado do Tennessee que lhe perguntou: “Que raio de problema tens para apoiares este desertor?”

A presidente da câmara de comércio de Hailey, Jane Drussel, disse que recebeu dezenas de emails e telefonemas de pessoas zangadas com a sua declaração de que a cidade estava em “júbilo” com a libertação de Bergdahl, chamando-lhe “traidor” e “não americano”. “É perturbador, porque aqui as pessoas vivem em paz e harmonia”, comentou Drussel. “A alegria tornou-se, de repente, menos alegre”, lamentou. Sobretudo, “ele e a família nunca terão uma vida normal”.

Explicando que não tem “noção preconcebida de culpa ou inocência” de Bergdahl, Joenl Robinson, voluntário de uma organização que tem apoiado a família do soldado, disse: “Espero o decurso do processo judicial. Gostaria que as outras pessoas fizessem o mesmo.”

Mas isto não deverá acontecer tão cedo. Bowe Bergdahl, 28 anos, está a ser sujeito a um processo de “descompressão”. Segundo procedimentos definidos pelo Pentágono para estes casos (a que foram sujeitos já alguns militares capturados no Iraque), as primeiras 24 horas são de avaliação imediata médica física e psicológica, e o restante processo está dividido em duas fases, que podem levar semanas ou meses. Trata-se de tratamento psicológico e preparação para contactos sociais e para o regresso ao contacto com a família, a terceira fase. Só depois de todo este processo é que Bergdahl será questionado. Sabe-se pouco sobre o estado de Bergdahl – só que está estável e que estava com dificuldade em falar inglês.

Após a sua libertação, o tom de vários comandantes militares era o de que qualquer que tivesse sido a intenção do soldado, cinco anos nas mãos dos taliban teriam sido castigo suficiente.

Não há dúvidas – e já não havia antes da sua libertação – de que Bergdahl era um jovem com algumas ilusões que viu a sua ida para o Afeganistão como uma espécie de ajuda humanitária com armas. E que rapidamente se desiludiu com uma guerra suja.

Até agora, é dado como certo de que abandonou o seu posto sem autorização. Teria tido intenção de desertar? O Exército já prometeu uma “avaliação aprofundada, transparente e completa” do que aconteceu.

Sugerir correcção
Comentar