Abbas vai pedir calendário para o fim da ocupação israelita

O presidente da Autoridade Palestiniana avança com uma iniciativa unilateral quando há sinais de uma frente interna contra si.

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Palestinianos no que resta da sua casa em Gaza Suhaib Salem/AFP

No primeiro dia do cessar-fogo em que os palestinianos de Gaza se contentaram em olhar para os céus e não ver caças israelitas e que os habitantes de Israel sossegaram sem o som das sirenes a anunciar o fogo de rockets vindos de Gaza, a desconfiança tomava conta dos dois lados. Pela primeira vez, falaram o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o responsável do Hamas em Gaza, Ismail Hanyieh. Ambos tentaram sublinhar os danos que inflingiram ao adversário e engrandecer os seus ganhos.

Com muitos a temerem uma segunda ronda de conflito, fontes diziam que o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, se preparava para uma iniciativa que ele próprio tinha mencionado recentemente dizendo que era “pouco ortodoxa”: o pedido de declaração de um calendário para o fim da ocupação israelita dos territórios palestinianos com uma data limite.

Esta já não é a primeira vez que Abbas anuncia um plano unilateral que parece pouco provável – uma das vezes que discursou sobre a iniciativa de pedido de reconhecimento de um Esatdo palestiniano na ONU, de 2011, brincou: “vocês não acreditam em mim…”  

Como a anterior iniciativa unilateral, esta deverá contar com a oposição dos Estados Unidos, pelo que qualquer pedido ao Conselho de Segurança deverá ser chumbado por Washington. Abbas ameaçou desmantelar a Autoridade Palestiniana e deixar Israel com toda a responsabilidade sobre os palestinianos, diz o Jerusalem Post. Mas é uma ameaça que já fez e em quem poucos acreditam.

Outra ameaça é recorrer ao Tribunal Penal Internacional para uma acusação contra Israel por crimes de guerra. O Hamas já terá dado o seu apoio a esta acção, que deixa o movimento exposto também a acusações de crimes de guerra.

O plano de Abbas será pedir à ONU um calendário para o fim da ocupação israelita dos territórios palestinianos – considerada ilegal pela comunidade internacional, mas sem qualquer consequência – com a declaração de um Estado palestiniano nas fronteiras anteriores a 1967, com Jerusalém como a capital, o que é sensivelmente a base de todos os acordos, que permitiram, no entanto, negociações sobre trocas de território que eventualmente permitiram a Israel manter colonatos que são autênticas cidades.

A alternativa ao Conselho de Segurança seria uma conferência internacional, dizem fontes ao El País.

Não é claro o que acontecerá no plano interno palestiniano, onde esta semana havia indicações de um plano para derrubar Abbas. Aparentemente, há uma frente unida para esta iniciativa.

Os palestinianos lembram o que aconteceu com o cessar-fogo de 2012 – um acordo prevendo um alívio ao bloqueio de Gaza que acabou por não se manter, mantendo-se sim o bloqueio ao território. “Faz falta uma solução definitiva que não nos faça ter uma crise a cada dois anos”, disse um deputado da Fatah, de Abbas, citado pelo El País.

Em Gaza, Ismail Haniyeh, antigo primeiro-ministro do Hamas em Gaza, saiu em público pela primeira vez (Israel destruiu a sua casa durante a guerra) para declarar vitória.

Pouco depois, em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu demorou a falar. Acusado de falta de estratégia e de ter feito um acordo com o Hamas sem o submeter a um voto do Executivo, que perderia, Netanyahu garantiu ter dado um rude golpe ao Hamas (que ainda há dias comparou aos jihadistas do Estado Islâmico da Síria e Iraque) e garantiu que Israel não vai tolerar disparos esporádicos vindos de Gaza. Falou ainda de tentar “promover de um modo responsável as novas oportunidades diplomáticas que foram criadas como resultado da guerra em Gaza”.

Mas depois de tanta morte e destruição, ambos os lados esperavam ter conseguido mais de um acordo de cessar-fogo.
 

   

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