Centenas marcham em Maputo para exigir fim dos confrontos

Protesto organizado por organizações da sociedade civil e pequenos partidos decorreu sob forte vigilância policial mas sem incidentes

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Os manifestantes percorreram mais de dois quilómetros até à praça da Independência Cortesia Dércio Tsandzana
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Centenas de pessoas marcharam neste sábado em Maputo contra a crise política e militar em Moçambique, exigindo o fim imediato dos confrontos entre o Exército e o braço armado da Renamo, o maior partido de oposição.

"Esta guerra é alimentada por uma arrogância jamais vista. Uma intolerância política sem precedentes. Basta de breves momentos de paz e longos momentos de guerra", disse Salomão Muchanga, líder do Parlamento Juvenil, uma das entidades da sociedade civil que organizou o protesto, que visou também o agravamento das condições de vida e as chamadas dívidas escondidas - um montante que supera os 1400 milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros) e que fez disparar a dívida pública para 86% do Produto Interno Bruto.

"Basta, não queremos mais sangue", disse à Lusa Miguel Chissaque, estudante de Direito na Universidade Eduardo Mondlane, acrescentando que os confrontos do último ano entre as Forças de Defesa e Segurança e os combatentes da Renamo, no Norte e Centro do país. atentam contra o que de mais precioso existe nas normas internacionais, o direito à vida.

Trajados com camisas brancas, trazendo a mensagem "Stop Guerra" e entoando hinos de repúdio aos confrontos, os manifestantes percorreram mais de dois quilómetros até à praça da Independência, sempre sob uma forte vigilância policial. Sem a presença visível de dirigentes da Frelimo, o partido no poder, ou da Renamo, a marcha contou com a participação de representantes de pequenos partidos e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira bancada na Assembleia da República.

Na véspera, a polícia tinha avisado que não seriam “toleradas perturbações da ordem pública” durante o protesto e que seriam mobilizados agentes para garantir a tranquilidade na cidade. À Lusa, os organizadores do evento denunciaram pressões para que a marcha não se realizasse e uma campanha organizada para dissuadir a participação, mas garantem que estão já a planear outras acções.

"Isto não pode continuar assim. As pessoas precisam ir à ru a para dizer basta. Como diz o nosso hino, ‘nenhum tirano nos irá escravizar’ e este deve ser o lema. Queremos responsabilizações, transparência e, acima de tudo, queremos paz", explicou Alice Mabota, presidente da Liga dos Direitos Humanos.

Além de exigir o fim dos confrontos, as organizações da sociedade civil exigem participar nas conversações de paz. Na quarta-feira, os mediadores internacionais divulgaram uma proposta às delegações da Renamo e Frelimo que previa a suspensão imediata das hostilidades, mas as partes não chegaram a acordo e as conversações foram interrompidas até 12 de Setembro.

As autoridades moçambicanas acusam a Renamo de uma série de emboscadas nas estradas e ataques nas últimas semanas, em localidades do Centro e Norte de Moçambique, atingindo postos policiais e também assaltos a instalações civis. Alguns dos ataques foram assumidos pelo líder da oposição, Afonso Dhlakama, alegando que visaram as Forças de Defesa e Segurança, acusadas de bombardear a serra da Gorongosa, onde se refugiou. A Renamo exige governar em seis províncias onde diz ter vencido nas eleições gerais de 2014.

Presente na manifestação, Manuel de Araújo, dirigente do MDM e presidente do município de Quelimane, na província da Zambézia, uma das mais atingidas pelos confrontos, lamentou que ainda não se tenha dado "nenhum passo para a frente" na solução para a crise militar e que "todas as mudanças que o país sofreu só tenham sido possíveis com recurso a armas".

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