Estado Islâmico levou oito mil famílias para dentro de Mossul para servirem de escudo humano

Nações Unidas acusam o grupo de ter executado 232 pessoas nos últimos dias: quem não quis ir dos arredores para a cidade foi imediatamente morto a tiro.

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Combatente curdo tira selfie com crianças de aldeia nos arredores de Mossul, retomada ao Daesh ARI JALAL/Reuters

Os combatentes do Estado Islâmico juntaram dezenas de milhares de pessoas – homens, mulheres e crianças – que esperam usar como escudos em Mossul, cidade iraquiana que está a ser alvo de uma operação militar que visa libertá-la das mãos dos islamistas.

A acusação é da agência de direitos humanos das Nações Unidas, que acrescentou que os combatentes, que controlam a cidade, mataram pelo menos 232 pessoas num dia na cidade de Mossul: pessoas que recusaram obedecer ou eram antigos membros do exército iraquiano.

“A estratégia perversa e cobarde do ISIL [sigla pela qual também é conhecido o Estado Islâmico] é tentar usar a presença de civis para tornar certas zonas impunes às operações militares, utilizando efectivamente dezenas de milhares de mulheres, homens e crianças como escudos humanos”, disse o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Zeid Ra'ad al Hussein. O uso de escudos humanos, acrescentou, é proibido pela lei internacional.

Estas pessoas, afirmou antes uma porta-voz do mesmo organismo, terão sido forçadas a sair das suas casas em localidades à volta da grande cidade, pelos combatentes islamistas que controlam a cidade, que as levaram para dentro da própria cidade, com o objectivo de os poder ter perto de instalações militares. Trata-se de quase oito mil famílias, de cerca de seis pessoas cada. “Os que se recusaram a ir foram mortos a tiro no local”, disse ainda a porta-voz.

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A operação militar que começou a 17 de Outubro tem-se focado primeiro em tomar localidades nos arredores como preparação para depois se mover para a própria cidade. Os Estados Unidos, que apoiam o exército iraquiano, já tinham avisado para o uso de escudos humanos pelo Estado Islâmico.

Por outro lado, tem havido também preocupação com assassínios de retaliação a pessoas suspeitas de terem apoiado o grupo jihadista. Alguns aldeães de localidades perto foram impedidos de voltar às suas casas por haver suspeitas de que possam ter apoiado os islamistas. Estas pessoas, insistiu o alto-comissário, devem ter direito a julgamento.

Às preocupações sobre os civis no local, que estão a ser impedidos de sair por atiradores furtivos, segundo relatos de alguns que escaparam, usados como escudos humanos, ou sujeitos a serem atingidos pelas tropas que avançam, juntam-se suspeitas de uso de armas proibidas: A organização de defesa de direitos humanos Amnistia Internacional diz ter informações credíveis sobre o uso de fósforo branco à volta de Mossul. 

O químico é usado para iluminar campos de batalha, mas o seu uso está proibido em zonas com civis: quando explode lança pedaços da substância numa área de 150 metros, e quando entra em contacto com o ar atinge temperaturas extremamente altas, e ao chegar à pele pode causar queimaduras até ao osso.

“Pedimos ao Iraque e às forças da coligação para não usarem fósforo branco perto de civis”, disse a Amnistia citada pelo diário britânico The Guardian

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