Passadores terão provocado a morte a cerca de 500 imigrantes no Mediterrâneo

Mais de 2200 pessoas morreram ou foram dadas como desaparecidas no mar desde Junho, ao tentarem chegar à Europa.

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Imigrantes socorridos neste fim-de-semana pela Marinha italiana AFP

O naufrágio de uma embarcação de imigrantes, alegadamente abalroada por passadores, terá causado, na semana passada, a morte por afogamento de até 500 pessoas, para já dadas como desaparecidas. Se as informações se confirmarem foi um “homicídio em massa” e um dos maiores desastres dos últimos anos no Mediterrâneo.

O caso foi denunciado nesta segunda-feira pela Organização Internacional das Migrações (OIM), que recolheu os testemunhos de dois palestinianos de Gaza socorridos por um porta-contentores panamiano. Os sobreviventes garantem que os passadores provocaram o afundamento da embarcação em que seguiam perto de meio milhar de pessoas – sírios, palestinianos, egípcios e sudaneses. Entre eles, famílias com crianças e menores que viajam sós.

Ouvidos separadamente, os dois homens, que desembarcaram no sábado em Pozzallo, no sul da Sicília, Itália, contaram, segundo a AFP, terem partido a 6 de Setembro de Damietta, no Egipto. Ao longo da travessia, os passadores terão obrigado os imigrantes a mudarem várias vezes de embarcação. Quando, na quarta-feira, os mandaram passar para um novo barco, aparentemente mais precário, recusaram-se a fazê-lo.

Os dois sobreviventes acusam os passadores de terem nessa altura abalroado com a popa da sua embarcação aquela em que os imigrantes estavam, o que – acrescentaram – causou o afundamento. O desastre ocorreu em águas internacionais, 300 milhas náuticas a sudeste de Malta. A Marinha de Malta confirmou que a colisão envolveu um navio que transportava 300 a 400 imigrantes e outra embarcação com 30 pessoas a bordo.

Os dois palestinianos foram recolhidos dia e meio depois. “Nove outros sobreviventes foram socorridos por navios gregos ou malteses, mas parece que todos os outros terão morrido””, disse à AFP Flavio Di Giacomo, porta-voz da OIM em Itália.

As autoridades italianas abriram um inquérito ao caso.

Também nesta segunda-feira, a Marinha líbia informou ter socorrido no domingo 36 pessoas quando a embarcação em que viajavam se afundou. Segundo o porta-voz, coronel Ayoub Kassem, estavam a bordo “talvez 200 pessoas ou mais”. “Havia um grande número de corpos a flutuar. Mas a falta de meios não nos permitiu recolher os cadáveres, disse à agência noticiosa.

Um informador da guarda-costeira líbia informou, também nesta segunda-feira, que 102 imigrantes foram socorridos quando o barco pneumático em que seguiam se começou a afundar, perto da costa. Morreram pelo menos três pessoas e desapareceram outras três.

A Líbia é um país de trânsito para centenas de milhares de africanos que procuram chegar à Europa, africanos na sua maior parte. O caos político-militar em que está mergulhada deixa campo livre aos passadores. No final de Agosto, cerca de 170 africanos desapareceram noutro naufrágio ao largo da costa líbia.

Também nesta segunda-feira a Marinha italiana informou ter socorrido 2380 pessoas, só durante o fim-de-semana.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 2200 pessoas morreram ou foram dadas como desaparecidas desde Junho ao tentarem atravessar o Mediterrâneo. Os que chegaram por mar à Europa desde o início do ano rondam os 130 mil, mais do dobro do que em todo o ano de 2013.

 

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