Kyenge é a primeira mulher negra num Governo italiano e está a ser vítima de racismo

Cecile Kyenge, 48 anos, é a ministra da Integração e tem na mira os ataques aos direitos dos imigrantes. A extrema-direita ataca-a na Internet.

Cecile Kyenge, uma médica oftalmologista natural da República Democrática do Congo
Fotogaleria
Kyenge é a primeira mulher negra a integrar um governo italiano Tony Gentile/Reuters
Laura Boldrini foi nomeada em Março presidente da Câmara dos Deputados italiana
Fotogaleria
Laura Boldrini foi nomeada em Março presidente da Câmara dos Deputados italiana PÚBLICO

Entre as sete mulheres escolhidas para o novo Governo italiano, Cecile Kyenge, 48 anos, foi nomeada para ministra da Integração. É a primeira negra a chegar ao governo do país. Defensora da entrega da nacionalidade imediata a crianças nascidas em Itália que sejam filhas de imigrantes, Kyengeestá a ser alvo de comentários racistas por parte de elementos da extrema-direita italiana. Mas não é a única mulher a ser ameaçada.

“Será mesmo necessário um ministro de cor? Com todo o respeito pela senhora”. A frase é de Alessandro Loi, padre na paróquia de Lotzorai, na Sardenha, e foi publicada recentemente na página do pároco no Facebook. O “ministro de cor” é Cecile Kyenge, uma médica oftalmologista da República Democrática do Congo que chegou a Itália aos 18 anos e que integra desde Abril o novo Governo de Enrico Letta.

O comentário é um dos muitos que nos últimos dias têm sido dirigidos a Kyenge, antiga deputada do Partido Democrata, que estabeleceu como uma das suas primeiras tarefas como ministra preparar um dossier sobre o racismo institucional.

A italiana quer ir mais longe e conseguir que seja revogado o crime de imigração ilegal e tornar mais acessível aos estrangeiros a entrada no mercado de trabalho. Junta aos seus objectivos a “luta contra a violência sexista, racista, homofóbica e de qualquer natureza”. No topo da lista está ainda a naturalização automática de crianças nascidas de pais imigrantes e não apenas aos 18 anos, como determina a actual lei italiana.

A sua etnia e as posições que tem assumido enquanto deputada e agora como ministra colocaram-na na linha de fogo da extrema-direita italiana. Termos como “zulu”, “negra anti-italiana” ou “macaca congolesa” têm surgido em sites e blogues em Itália. A ministra tem dado apenas uma resposta a estes comentários: “Não sou de cor, sou negra e digo-o com orgulho”.

"Governo bonga-bonga"
Mario Borghezio, eurodeputado da Liga Norte, partido xenófobo que integrou a coligação governamental de Silvio Berlusconi, está entre os que fizeram comentários pejorativos contra a ministra. Segundo a Reuters, Borghezio referiu-se à coligação de Enrico Letta como o “governo bonga-bonga” e a Kyenge como alguém que parece ser “uma boa dona de casa mas não uma ministra”. Esta afirmação foi condenada pela presidente da Câmara dos Deputados italiana, Laura Boldrini, que considerou como “vulgaridades racistas” as palavras de Mario Borghezio.

A própria presidente da Câmara dos Deputados italiana tem sido alvo de insultos. Ao jornal La Repubblica, Laura Boldrini admitiu nesta sexta-feira que desde a sua nomeação em Março deste ano tem recebido ameaças em mensagens divulgadas na Internet, algumas delas de violência sexual,  acompanhadas de fotomontagens.

Contra estas ameaças e outras semelhantes feitas às mulheres em Itália, Boldrini quer “abrir uma frente de batalha”, disse ao La Repubblica. “Quando uma mulher chega a um cargo público é alvo de agressões sexistas, quer sejam simples rumores ou violência, é sempre utilizado o mesmo vocabulário de humilhação e submissão”. A responsável italiana diz que esta é “uma situação de urgência em Itália, porque há mulheres que morrem às mãos dos homens todos os dias”.

Sugerir correcção
Comentar