Catalunha ausente da festa contida e poupada do Dia da Hispanidade

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O Rei Juan Carlos passou revista às tropas mas não houve desfile carros de combate nem de aviões de caça Juan Medina/REUTERS

Sob o signo da austeridade, marcada pela pulsão independentista catalã, com a família real a procurar recuperar uma imagem abalada, a Espanha assinalou ontem a sua festa nacional: o Dia da Hispanidade, o 12-O, de 12 de Outubro, o primeiro com Mariano Rajoy como chefe do Governo.

A patrulha acrobática Águila desenhou no céu a bandeira de Espanha e o rei passou revista às tropas. Mas, ao contrário do habitual, para poupar, não houve desfile de carros de combate nem de aviões de caça. .

Os tempos têm sido de contestação à austeridade, mas nas cerimónias oficiais, em Madrid, não houve vaias nem assobios, ao contrário do que estava a tornar-se tradição com o anterior Governo, de Rodríguez Zapatero. O rei Juan Carlos, a rainha Sofia e os príncipes herdeiros foram recebidos com aplausos à chegada à Praça Neptuno, Rajoy em silêncio.

O presidente da Generalitat da Catalunha, Artur Mas, faltou e não se fez representar na cerimónia de Madrid, o que deu visibilidade à distância que as autoridades de Barcelona querem marcar. Políticos catalães só o socialista José Montilla, ex-presidente da Generalitat. Por razões diversas também não estiveram os presidentes da Andaluzia, Comunidade Valenciana, Galiza, País Basco, La Rioja, Cantábria e Melilla, noticiou a TVE, que não atribuiu especial significado a estas ausências.

A questão catalã foi assunto de conversa entre o príncipe Felipe e a imprensa, na recepção às autoridades do Estado e partidos políticos, oferecida por Juan Carlos no palácio real, após a parada militar. O herdeiro da coroa disse, segundo o El País, que a Catalunha "não é um problema" e que é preciso fazer baixar a tensão que subiu após a manifestação independentista de 11 de Setembro, em Barcelona. Felipe pediu aos políticos que trabalhem "com responsabilidade" para resolver a situação.

Também nas palavras do ministro da Defesa, Pedro Morénes, que logo de manhã esteve em videoconferência com militares no exterior, enaltecendo a importância do seu trabalho para "a credibilidade que a Espanha necessita", esteve subjacente o tema Catalunha. Numa entrevista à televisão pública disse que "os espanhóis juntos e unidos são muito mais [fortes] dentro e fora de Espanha do que desunidos".

"Nós só temos um coração"

Em Barcelona, alguns organismos públicos e privados abriram simbolicamente portas, em dia feriado, numa atitude de protesto. Mas a data foi aproveitada pelo grupo Plataforma de España y Catalanes para se manifestar contra a eventual separação de Espanha. "Nós só temos um coração" e "não queremos cortá-lo em dois", gritaram, segundo a AFP, na Praça da Catalunha.

A concentração - a que aderiram o Partido Popular catalão, a associação Ciutadans, que se opõe ao nacionalismo catalão, a Unión Progreso y Democracia, UPyD - terminou com um "Viva a Espanha e Viva a Catalunha", após a leitura de um manifesto em catalão, castelhano e inglês em que se dizia: "Ninguém tem o direito de nos pedir para escolher entre ser catalães ou espanhóis".

A iniciativa mobilizou um número de pessoas que a Guàrdia Urbana disse serem seis mil e a delegação local do Governo quantificou em 65 mil. No final, a entrada na praça de um pequeno grupo de neonazis causou tensão. Noutro local, a Praça Universitat, onde decorreu uma contramanifestação da esquerda independentista, um homem que, com os três filhos, atravessava o local com a bandeira espanhola foi agredido por um jovem.

Em Bilbau, as forças de segurança detiveram 16 pessoas por distúrbios motivados por uma reacção de antifascistas à intenção de ultranacionalistas de se concentrarem junto à sede do PNV, Partido Nacionalista Basco, pedindo a ilegalização de "partidos separatistas".

Na cerimónia de Madrid, ao contrário do que aconteceu noutras alturas, a infanta Elena esteve fora da tribuna oficial e a sua irmã Cristina nem sequer compareceu. A Casa Real quis, segundo o El País, dar um sinal de que o núcleo da família real é formado por Juan Carlos, Sofia, pelo príncipe herdeiro Felipe e a mulher, Letizia.

Elena foi para a tribuna dos convidados, onde ficou ao lado do líder da oposição, o socialista Alfredo Pérez Rubalcaba. Segundo a agência Efe, também não esteve a receber cumprimentos na recepção às autoridades do Estado e aos partidos, oferecida por Juan Carlos no palácio real. Só se juntou à família depois de terminada a cerimónia. A partir de agora, será assim em cerimónias oficiais de Estado, segundo a Efe.

Há um ano, também Cristina e o marido, Iñaki Urdangarin, estiveram presentes, mas pouco depois rebentou um escândalo de corrupção em que está indiciado o genro do rei e o casal deixou de comparecer em cerimónias oficiais.

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