Candidatos às presidenciais do Afeganistão retiram-se da recontagem dos votos

Fraude na segunda volta das eleições continua a deixar o país num limbo. Cimeira da NATO também fica afectada.

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Ainda falta verificar 6000 urnas com boletins de voto Wakil Kohsar/REUTERS

O candidato às presidenciais afegãs Abdullah Abdullah anunciou que rejeitará os resultados da auditoria que está a ser feita aos votos da segunda volta. Ambos os concorrentes retiraram os seus observadores da comissão supervisionada pelas Nações Unidas que está a fazer recontagem dos votos que, esperava-se, poria fim à crise que está a marcar o que deveria ser a primeira transferência democrática de poder no Afeganistão.

Abdullah Abdullah, um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros que ganhou a primeira volta, em Abril, retirou os seus observadores da comissão porque tinha dado prazo até quarta-feira às Nações Unidas para que fosse aplicado um critério mais restrito para eliminar votos fraudulentos.

Os peritos internacionais estimam que, dos oito milhões de votos expressos na segunda volta, cerca de dois milhões dos a favor de Ashraf Ghani, um ex-ministro das Finanças, sejam fraudulentos, e o mesmo acontece com 800 mil dos que foram colocados nas urnas a favor de Abdullah, adianta o New York Times.

Abullah centra-se nas acusações de fraude para explicar a inesperada vitória em Junho de Ghani, com 56% dos votos, quando este tinha tido apenas 31,6% na primeira volta. Quanto mais votos foram eliminados, mais hipóteses poderá vir a ter de ser eleito. Mas, segundo a Reuters, o mais provável é que a recontagem confirme a vitória de Ashraf Ghani.

Após a saída dos representantes de Abdullah da comissão supervisionada pela ONU que está há um mês a auditar os votos – embora ainda faltem verificar seis mil das 23 mil urnas que é preciso analisar –, os peritos internacionais pediram à candidatura de Ghani que retirasse também os seus observadores, para que nenhum dos dois ficasse em vantagem. Ghani acedeu ao pedido, e neste momento a comissão independente está a trabalhar sem representantes das suas candidatura, no que classificam como a mais complexa operação de recontagem em que a ONU já participou.

"Mas continuamos a incentivar ambos os lados a participar neste processo, e estamos abertos a abordar as suas preocupações", salientou Nicholas Haysom, vice-director da comissão orientada pelas Nações Unidas, citado pela Reuters.

Embora Abdullah se tenha comprometido a aceitar os resultados desta recontagem a todos os votos – com o secretário de Estado norte-americano John Kerry a fazer duas viagens ao Afeganistão para obter o compromisso – não é agora claro como vai evoluir a situação. Nem como será a cimeira da NATO marcada para 4 de Setembro em Cardiff, na qual o futuro do Afeganistão seria um dos grandes temas.

A incerteza começa até em quem será o representante do Afeganistão a sentar-se entre os líderes mundiais em Cardiff. A tomada de posse do novo Presidente estava marcada para 2 de Setembro, esperando-se que a situação ficasse resolvida até lá, mas isso não é garantido.

Uma possibilidade é que os dois candidatos acabem por ir à cimeira. Ali deveria ser assinado um acordo de segurança para definir a continuação de uma presença militar da NATO no Afeganistão para além de 2015, que o Presidente Hamid Karzai se recusou a assinar no ano passado, e que ambos os candidatos se comprometeram a assinar quando tomassem posse. 

Mas se os resultados das eleições presidenciais não ficaram esclarecidos a contento de todos, dificilmente haverá estabilidade política. "Há mais de um milhão de votos fraudulentos", afirmou Mohammad Mohaqeq, um líder da comunidade Hazara, apoiante de Abdullah. "Se não forem invalidados, o resultado não será legítimo e nunca o aceitaremos." 

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