Candidato a Presidente da Grécia falhou eleição e incerteza política mantém-se

Stavros Dimas teve 160 votos e ficou aquém dos 200 de que precisava. Eleição presidencial, e tentativa do Governo para evitar legislativas antecipadas, tem novos capítulos nos dias 23 e 29.

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Samaras durante a votação desta quarta-feira Alkis Konstantinidis/ REUTERS

Sem surpresas, o candidato único à Presidência da Grécia falhou, esta quarta-feira, a eleição pelo Parlamento. Stavros Dimas conseguiu 160 votos, ficando longe dos 200 que lhe garantiriam a designação à primeira volta. Novas tentativas para eleger o novo chefe de Estado estão marcadas para os dias 23 e 29. Caso a eleição não se concretize ao cabo de três tentativas, a Grécia terá legislativas, no início do próximo ano.

Chamados um a um pelo nome, 160 deputados levantaram-se e disseram “Stavros Dimas”, em sinal de apoio à eleição do candidato da coligação governamental que reúne conservadores da Nova Democracia e socialistas do Pasok. Os 135 que se opuseram responderam “Presente”, conforme o regulamento eleitoral, que não prevê “nãos”. Estiveram ausentes cinco dos 300 parlamentares.

Nem mesmo a coligação, que tem uma maioria simples de 155 deputados, esperava um desfecho diferente na primeira ronda, mas o resultado foi escasso para as suas expectativas. “Se conseguirmos mais de 160 votos a favor do nosso candidato, será um primeiro passo positivo”, disse, antes da votação, o ministro da Defesa Nikos Dendias, à estação Star TV. Observadores admitiram à AFP que Dimas tivesse 160 a 165 votos na primeira volta.

Uma segunda ronda, em que continuam a ser necessários 200 votos para a eleição, está marcada para dia 23. Caso o candidato, membro da Nova Democracia, antigo comissário europeu, 73 anos, volte a não ser eleito haverá uma terceira volta, no dia 29, baixando nessa altura para 180 o número de votos necessários. Será esse o momento decisivo.

Para garantir a eleição do seu candidato e evitar legislativas antecipadas já no início de 2015, o campo governamental precisa somar 20 votos aos desta quarta-feira. Esses votos terão de vir de deputados independentes –  24 no conjunto do Parlamento – ou de dissidentes dos partidos da oposição.

“Temos até à terceira volta para tentar uma aproximação aos partidos do campo democrático", disse, citado pela AFP, o vice-primeiro-ministro e líder socialista, Evangélos Vénizelos, num discurso aos deputados do seu partido, ainda antes da votação."Eleições [legislativas] seriam nocivas para os interesses gregos”, acrescentou.

Mais do que a eleição de Dimas para um cargo representativo, o que está em causa na eleição presidencial indirecta é o futuro próximo da Grécia e das políticas de austeridade. Caso o candidato à sucessão de Karolos Papoulias não seja eleito são automaticamente convocadas legislativas antecipadas em que o favoritismo é do partido Syriza (Coligação de Esquerda Radical), que se opõe à austeridade dos últimos anos e é visto com reservas pela Comissão Europeia.

Horas antes do escrutínio, o primeiro-ministro, Antonis Samaras, dramatizou o discurso. Disse que votar contra Stavros Dimas seria abrir a porta a “uma aventura política que poderia revelar-se fatal para a evolução europeia do país”. E, num piscar de olho aos deputados, declarou que um voto favorável ao candidato presidencial “não seria interpretado como um plebiscito do Governo”.

Samaras tem explorado os receios de um “catastrófico” regresso da Grécia aos piores momentos da crise da dívida, quando a permanência do país no euro chegou a estar em risco. Citado pela Reuters, um porta-voz do Syriza, Panos Skourletis, acusou o chefe do Governo de ser um “arquitecto do caos, que aposta num clima de alarmismo”.

As autoridades de Bruxelas e os parceiros europeus temem eventuais efeitos negativos de uma crise e de uma nova política. E a Comissão não o escondeu. O comissário dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, que esta semana foi à Grécia, disse que é importante o país “continuar na via da reconstrução e do desenvolvimento”. Os mercados financeiros interiorizaram os receios de instabilidade - após o anúncio da antecipação da eleição presidencial, no início da semana passada, a bolsa de Atenas caiu mais de 20%, uma quebra só ligeiramente atenuada esta semana.

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