Gordon Brown “tudo fará” para que sejam cumpridas as promessas feitas aos escoceses

Antigo primeiro-ministro britânico faz aviso à navegação sobre eventual atraso no reforço dos poderes da Escócia

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"Vamos pensar em nós simplesmente como escoceses”,disse o político trabalhista Dylan Martinez/Reuters

O antigo primeiro-ministro britânico Gordon Brown manifestou-se, este sábado, convencido de que os líderes políticos cumprirão as promessas feitas na campanha do referendo na Escócia e disse que vai empenhar-se a fundo para que isso aconteça.

Brown – que se envolveu intensamente na campanha do “não” à independência – apresentou-se como um “fazedor de promessas", que tudo fará para que sejam cumpridas. Ao referir-se aos líderes dos três principais partidos britânicos, que assumiram o compromisso de reforçar os poderes do Parlamento escocês, definiu-os como “cumpridores de promessas”.

“Os olhos do mundo estiveram postos em nós e penso que agora os olhos do mundo estão postos nos líderes dos maiores partidos do Reino Unido”, declarou, citado pela Reuters, num discurso em Fife, na Escócia, um dia depois de conhecida a vitória do “não” à independência, com 55,3% dos votos.

As palavras de Brown podem ser vistas como uma espécie de aviso à navegação face aos receios de um eventual atraso no reforço dos poderes da Escócia. Esse atraso poderia ser provocado pela necessidade de um “arranjo” constitucional que acomode a promessa, feita na sexta-feira pelo primeiro-ministro conservador, David Cameron, de dar também mais autonomia ao País de Gales, Irlanda do Norte e à própria Inglaterra – a única que não tem parlamento local próprio.

O anúncio de Cameron – feito na sequência da declaração de que os compromissos com a Escócia “serão honrados na totalidade” - agrada à ala direita do Partido Conservador, que se queixa de os deputados ingleses não terem voz nas matérias de competência dos parlamentos regionais e de, ao contrário, escoceses, galeses e norte-irlandeses em Westminster poderem decidir sobre assuntos relativos à Inglaterra.

Os liberais-democratas que integram o governo de Cameron estão reticentes a mudanças dessa natureza. Os trabalhistas, como sublinha a AFP, ainda mais - o voto escocês, tradicionalmente mais à esquerda, é importante para um eventual regresso ao poder, nas eleições gerais do próximo ano. O líder, Ed Miliband, convocou uma conferência para discutir o assunto, em Novembro.

 O receio de que a discussão de uma nova arquitectura política do Reino Unido atrase a concretização das promessas fez surgir sinais de preocupação na Escócia. O jornal Scotsman escreveu que o debate será “enorme e complexo” e que há risco de arrastamento do processo.

A declaração de Brown terá tido o claro propósito de marcar o terreno. O escocês que dirigiu o penúltimo governo de Londres entende que três elementos amarram os actuais líderes políticos às promessas que fizeram antes do referendo.

A promessa de, até final de Janeiro, estar pronto um projecto legislativo para reforçar os poderes do Parlamento escocês em matéria fiscal e de segurança social  – prazo previsto no compromisso assumido por Cameron, pelo seu vice e líder liberal-democrata Nick Clegg e por Miliband- foi referida por Brown como uma das garantias.

Outro dos “cadeados” que prende os dirigentes ao cumprimento das promessas é, para o antigo líder trabalhista, o facto de funcionários estarem já a trabalhar para que no final de Outubro esteja pronto um “documento orientador” sobre a transferência de poderes. Por fim, Brown anunciou, segundo a BBC, que a 16 de Outubro será realizado um debate na Câmara dos Comuns.

O ex-primeiro-ministro considera que, para a Escócia, passado o referendo, é tempo de ultrapassar as divisões. “Há um tempo para lutar e há um tempo para unir. Este é o tempo para a Escócia se unir”, disse. “Vamos pensar em nós não como escoceses do ‘sim’ ou escoceses do ‘não’, vamos pensar em nós simplesmente como escoceses.”

Gordon Brown, que perdeu as eleições de 2010 para David Cameron, negou qualquer intenção de voltar à primeira linha da política britânica. Aos 63 anos, considera-se “demasiado velho” para voltar e “demasiado novo para ser um velho estadista”.

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