Brasil: das exclamações às interrogações

O gigantesco mapa do Brasil é hoje uma grande interrogação. É a opinião da jornalista brasileira Maria Caldas, que está no Rio de Janeiro.

Mais de um milhão de pessoas saíram às ruas em diversas cidades do Brasil nesta quinta-feira, mas os protestos difusos que marcaram as passeatas e foram capazes de juntar milhares em marchas pacíficas vão ficando em segundo plano para dar destaque à violência que estoura no meio das manifestações. Uma violência que vem de homens de farda e também de manifestantes.

Na onda de protestos, a intolerância e o oportunismo jogam suas pranchas e fazem manobras já conhecidas, como tentando domesticar a vaga, diminuir-lhe sua beleza e força, querendo sobrepor-se como espetáculo principal.

Extremistas de direita, radicais de esquerda, vândalos, bandidos, fascistas. Na luta para entender o que realmente se passa, todos esses personagens, velhos personagens, vão ganhando citações e contorno de explicação dos rumos que o movimento das ruas vai tomando.

Mas será uma pena ver respostas tão antigas, que talvez se revelem em boa parte verdadeiras, transformarem-se no ponto final dessas manifestações. Por que não priorizar a atenção nas reticências do algo novo que está no ar? Porque há algo novo no ar.

Mais frutífero do que procurar velhas respostas seria formular novas perguntas, para entender como, de uma hora para outra, um país despeja tanto descontentamento.

Algumas dessas perguntas parecem bem evidentes. Por que as instituições políticas foram se desconectando da sociedade que deveriam representar? Como resgatar a legitimidade perdida? Que papel essa força descentralizada que emana das redes sociais assume no Estado democrático? Como lidar com ela?

Às exclamações de protestos, de perplexidade pelo adensamento das manifestações, de condenação dos atos de violência, que se sucedam perguntas para evitar que tudo isso caia no esquecimento. Questões que levem às necessárias mudanças.

Olhando bem, o Brasil de hoje é a imagem seu próprio mapa: um gigantesco ponto de interrogação.

Maria Caldas é jornalista brasileira.

Artigo em português do Brasil
 
 

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