"Bons progressos" mas ainda sem certezas de um acordo com o Irão em Genebra

Chefes da diplomacia convergiram para a Suíça, mas divergências sobre pontos-chave ainda não foram ultrapassadas e podem bloquear um acordo que é visto como estando muito próximo.

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Boa disposição na reunião REUTERS/Jason Reed

As negociações sobre o programa nuclear iraniano – prolongadas por mais um dia na tentativa de selar um acordo que, apesar de interino, seria histórico – estão a ter “muito bons progressos”, disse o chefe da diplomacia britânica, William Hague. Mas apesar do sentido de urgência partilhado por todas as partes “é ainda muito cedo para dizer se vão ser concluídas hoje com sucesso”.

Os sinais de que a segunda ronda de contactos em Genebra poderia resultar em algo mais do que a definição de um calendário para as negociações começaram a surgir sexta-feira, com a chegada não anunciada do secretário de Estado norte-americano, John Kerry. Juntaram-se-lhe depois os chefes da diplomacia dos três países europeus que desde 2003 negoceiam com Teerão (França, Reino Unido e Alemanha) e já neste sábado chegou à cidade suíça o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, e ainda durante o dia é esperado o representante chinês, Wang Yi.

O prolongamento das discussões e frases ditas por diplomatas nos intervalos das reuniões reforçaram a ideia de que é possível que saia já de Genebra um acordo que, apesar de preliminar, será o primeiro entre o Irão e as potências internacionais e lançará as bases para o que poderá ser o fim do e um dos diferendos mais explosivos da actualidade.

O conteúdo das negociações permanece secreto, mas várias fontes adiantam que, em cima da mesa, estará a obrigação de o Irão parar de enriquecer urânio a 20% (concentração superior à usada nos reactores nucleares) e aceitar o reforço das inspecções. Em troca, europeus e americanos levantariam algumas das sanções impostas ao sector financeiro e descongelariam fundos iranianos cativados em instituições internacionais.

Kerry encontrou-se sexta-feira à noite, durante cinco horas, com o seu homólogo iraniano, Mohammad Javad Zarif, num encontro que mostra bem o potencial que estas negociações têm também para conduzir à reaproximação dos dois países, sem relações diplomáticas desde 1979. “Estamos a trabalhar arduamente”, disse o chefe da diplomacia americana, no regresso ao seu hotel, cerca das 23h de sexta-feira. A reunião “foi produtiva mas ainda há muito trabalho para fazer”, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araqchi.

Contudo, na manhã deste sábado começou a ser lançada alguma água na fervura. “Há alguns pontos com os quais não estamos satisfeitos”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, que várias fontes descrevem como o mais intransigente nestas negociações. “Não aceitaremos um acordo para tolos”, sublinhou.

Várias fontes adiantam que Paris quer que Teerão aceite também suspender os trabalhos na central Arak, onde daqui a alguns meses entrará em funcionamento um reactor de águas pesadas de cuja laboração será possível extrair plutónio. Não existirá ainda também acordo sobre o que fazer ao stock de urânio já enriquecido a 20% (186 quilos, segundo o último relatório da Agência Internacional de Energia Atómica).

Ao final da manhã, depois de vários encontros bilaterais e multilaterais, Araqchi disse à agência Isna que “há um maior acordo sobre algumas questões, mas menos acordo em outras”. Acrescentou ainda que a delegação iraniana não pretende arrastar por mais tempo a sua estadia em Genebra: “As negociações não vão continuar amanhã [domingo]. Ou terminam hoje ou haverá uma outra ronda.” Um responsável da delegação iraniana disse à agência Mehr que o regime iraniano exige um alívio maior das sanções já numa primeira fase, nomeadamente o levantamento de restrições aos sectores petrolífero e bancário, medidas que penalizaram duramente a economia iraniana.

Consciente dos efeitos que terá um adiamento da decisão depois das expectativas criadas nesta ronda, Hague pediu a “todos os ministros presentes” que percebam a importância do momento e “façam tudo ao seu alcance para aproveitar o momento” para tentar selar um acordo “que o mundo não conseguiu obter durante demasiado tempo”.

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