Bombas de Boston eram feitas de panelas de pressão e rolamentos

Médicos retiraram 20 a 30 pedaços de metal de algumas vítimas e esses pedaços parecem ser demasiado uniformes para não terem vindo do interior das bombas. FBI pede colaboração dos cidadãos para que se encontrem pistas sobre os autores do atentado.

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Fotografia tirada por investigadores mostram o que resta de uma das bombas artesanais Reuters
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Mais de 24 horas depois das explosões da maratona de Boston, o FBI continuava sem um único suspeito numa investigação que parte do zero: "Eles estão a começar com os factos do acontecimento", disse à Time Todd Hinnen, ex-procurador adjunto para a segurança nacional.

O trabalho dos peritos forenses começa a dar frutos, embora falte muito para terminar. "Estudar o local do crime vai demorar dias", disse Gene Marquez, da agência que monitoriza os explosivos em circulação. O chefe da polícia de Boston, Edward Davis, falou da "cena de crime mais complexa" que já conheceu. São 12 os quarteirões encerrados.

As autoridades têm falado em engenhos potentes mas sem explosivos sofisticados. Segundo a Associated Press, as duas bombas foram feitas a partir de panelas de pressão de seis litros com temporizadores e estavam em sacos de lona pretos. Tudo indica que as panelas estivessem cheias de pregos ou munições e rolamentos. A combinação de pólvora e metal maximiza o efeito da explosão: os fragmentos de metal saem disparados, como estilhaços mortíferos, atingindo muitas vezes as vítimas nas extremidades do corpo.

Os médicos retiraram 20 a 30 pedaços de metal de algumas vítimas e esses pedaços parecem ser demasiado uniformes para não terem vindo do interior das bombas. "Penso que é improvável que fossem tão consistentes se estivessem no ambiente" e tivessem sido empurrados pela força da bomba, disse numa conferência de imprensa George Velmahos, chefe de traumatologia no Hospital Massachusetts General. Ron Wallls, do Hospital Brigham and Woman's, disse ao jornal Boston Globe que removeu de vários feridos pregos e pequenos rolamentos "claramente pensados para funcionarem como projécteis e que só podiam ser parte do engenho".

"Não sabemos quem são os responsáveis, se foi o acto de uma organização terrorista, doméstica ou internacional, se foi obra de um ou mais indivíduos perturbados. E também não sabemos as razões que estão por trás destes actos terroristas", afirmou Barack Obama.

Não tinha sido detectada nenhuma indicação de ameaça iminente nem há "ameaças adicionais conhecidas", garantiu o FBI. E, apesar das notícias sobre bombas desarmadas, "dois, e apenas dois, engenhos explosivos foram encontrados".

Pista interna
A data do ataque – Dia do Patriota e último dia de entrega das declarações de impostos – aponta para a pista interna e para o envolvimento de grupos antigoverno. A ausência de reivindicação também. Mas as explosões coordenadas (bombas, separadas por 90 metros, explodiram com um intervalo de 12 segundos) são a marca do jihadismo internacional e da Al-Qaeda, que nos últimos anos recorreram a engenhos improvisados com pregos e rolamentos no Iraque e, principalmente, no Afeganistão. Aliás, os taliban paquistaneses apressaram-se a desmentir qualquer envolvimento.

Enquanto em Boston a Joint Terrorism Task Force vasculhava entre os destroços, em Washington a CIA e o FBI mergulhavam nas suas bases de dados à procura de alguma pista que tivesse escapado, ao mesmo tempo que abriam os ouvidos para eventuais diálogos de congratulação – hoje, reivindicações e festejos acontecem em fóruns de debate na Internet.

Agora, há 30 peritos forenses na rua, muita gente a trabalhar no que eles recolhem no interior de laboratórios e ainda mais agentes ocupados a visionar as gravações das câmaras de vigilância e os muitos vídeos feitos por espectadores com os seus smartphones. O FBI já disse estar a receber inúmeras informações – cerca de 2000 até ontem à tarde – e apela a todos os que tiverem fotografias ou vídeos feitos no local das explosões que enviem esse material para a polícia. “Alguém sabe quem fez isto. A cooperação da comunidade terá um papel crucial”, disse na terça-feira o agente do FBI Richard DesLauriers, em conferência de imprensa.

Impedir um atentado é muitas vezes uma questão de sorte – há três anos, em Times Square, foi um vendedor de T-shirts que reparou num carro a deitar fumo e assim se descobriu que no seu interior havia botijas de gás, fogo-de-artifício, contentores com gasolina e dois relógios. Quando não se evita o pior, descobrir o que aconteceu também pode implicar sorte, mas pede método e tempo.

"Vai ser uma investigação mundial", diz Richard DesLauriers. "Iremos até ao fim do mundo para identificar os responsáveis por este crime desprezível."

Vítimas identificadas
Enquanto não se encontram os culpados, os norte-americanos choram a morte de três pessoas nas explosões. Além de Martin Richard, o menino de oito anos que morreu após ter abraçado o pai na linha da meta, na terça-feira foram identificadas as outras duas vítimas.

Uma delas é Krystle ­Marie Campbell, de 29 anos. A mulher, que costumava ir assistir à corrida todos os anos, estava com a amiga Karen junto à linha da meta. Após as explosões, as duas estavam deitadas no chão quando as equipas de socorro chegaram e a caminho do hospital alguém confundiu os nomes. Quando o pai de Krystle chegou ao hospital foi-lhe dito que a filha estava gravemente ferida, provavelmente iria perder uma perna. Mas quando o homem entrou para a ver, percebeu que era Karen quem estava deitada na maca. A filha tinha morrido.

A terceira vítima é uma estudante de nacionalidade chinesa, que frequentava a Universidade de Boston. A pedido da família, o nome não foi divulgado. Os responsáveis da universidade disseram apenas que a rapariga estava a assistir à chegada dos maratonistas à meta com mais dois amigos. Um deles está internado no hospital.
 
 
 

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