“Bom domingo e bom almoço”

Papa falou à praça que “tem a dimensão do mundo” para dizer que “o Senhor nunca se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de lhe pedir perdão.”

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O Papa Francisco acena à multidão Osservatore Romano/Reuters
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Duas freiras esperam no chão pelo momento da bênção do novo Papa Paul Hanna/Reuters
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Um jovem segura uma bandeira de Portugal durante o primeiro Angelus do Papa Francisco FILIPPO MONTEFORTE/AFP
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A Praça de São Pedro encheu-se de pessoas que queriam ver o Papa VINCENZO PINTO/AFP
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O Papa Francisco cumprimenta os presentes no seu primeiro Angelus Tony Gentile/Reuters
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Um grupo de argentinos segura um cartaz onde se lê "caminharemos contigo, Papa Francisco" Paul Hanna/Reuters

Patricia chegou à Praça de São Pedro antes das 7h. Fez bem. Francisco, o Papa, já provoca “a loucura, tem a multidão aos pés”, diz a argentina de 40 anos, casada com um italiano de Roma, onde vive há sete anos. Diz bem.

Domingo, este primeiro domingo de Francisco na Santa Sé, teve missa celebrada pelo Papa na igreja paroquial de Sant’Anna no Vaticano, às 10h. E teve, duas horas mais tarde, Francisco, pela primeira vez na janela do seu escritório do Palácio Apostólico, a recitar o Angelus aos peregrinos.

Eram tantos os fiéis em São Pedro e foram tantos os fiéis que não conseguiram chegar a São Pedro: por falta de tempo, por falta de espaço, por falta de forças. Autocarros a terminarem o percurso na Piazza Barberini em vez de chegarem à Piazza Venezia, como todos os dias, metro apinhado como é raro um metro estar apinhado, ruas fechadas ao trânsito, ruas fechadas aos peões, tantas ruas fechadas, tanta massa de gente a tentar chegar ao mesmo sítio, ou já nem isso, o mais perto possível, à Via della Conziliacione que seja, a rua larga que desemboca na praça e onde neste domingo havia ecrãs gigantes.

Nas horas que antecederam o primeiro Angelus do Papa que veio da Argentina pedir aos cardeais para encontrarem “novos meios de levar a evangelização aos confins da terra”, gente de todos os sítios da terra fez o que pôde para chegar a tempo a São Pedro. A boa-disposição foi a regra, mas entre freiras esmagadas contra motos por um mar de gente, polícias cansados de responderem às mesmas perguntas e romanos indignados com tanta rua fechada aos peões, nem todos resistiram de bom humor e ânimo tranquilo.

“Irmãos e irmãs, bom dia”, começou por dizer Francisco à multidão na praça e nas ruas em redor. “Depois do primeiro encontro da última quarta-feira, hoje posso dirigir de novo a minha saudação a todos, e estou feliz de o fazer num domingo, no dia do Senhor. Isto é bonito e é importante para nós, cristãos, encontrarmo-nos ao domingo a saudarmo-nos e a falarmos uns com os outros, como agora aqui na praça, uma praça que, graças aos media, tem a dimensão do mundo”, afirmou o Papa.

Antes do Angelus, Francisco já proferira uma homilia. Entrara em Sant’Anna e fora recebido com gritos de “Viva o Papa!” e “Francisco! Francisco!”. No fim, como um padre ao domingo, escapou-se à segurança e deixou-se ficar à porta da pequena igreja a saudar os fiéis, um a um. Apertou mãos, conversou, pediu a alguns paroquianos para rezarem por ele, beijou bebés.

“Irmãos e irmãs, a face de Deus é a de um padre misericordioso, que tem sempre paciência. Já pensaram na paciência de Deus, na paciência que tem com cada um de nós? Essa é a sua misericórdia. Tem sempre paciência, paciência connosco, compreende-nos, espera-nos, não se cansa nunca de perdoar-nos se soubermos como regressar a ele com o coração contrito”, afirmou Francisco à Praça.

“Rezai por mim, peço-vos”
Com a boa-disposição de sempre e com a descontracção de quem tem todo o tempo do mundo e ninguém à sua espera noutro sítio, o Papa perdeu tempo a olhar para as pessoas, a sorrir com elas, a fazê-las rir. Também pediu a todos, uma vez mais, para rezarem por ele.

“Dedico uma saudação cordial a todos os peregrinos: obrigado pelo vosso acolhimento e pelas vossas orações. Rezai por mim, peço-vos”, disse quase no fim do Angelus. “Renovo as minhas graças aos fiéis de Roma e estendo-as a todos vocês, que vêm de várias partes de Itália e do mundo, tal como a todos os que estão unidos connosco através dos meios de comunicação.”

Pelo meio, Francisco brincou e contou que nos últimos dias leu um livro, um livro sobre a misericórdia escrito por um dos cardeais, o alemão Walter Kasper. “Um teólogo dos bons (in gamba), ah, um bom teólogo, e fez-me tão bem este livro… Mas não pensem que faço publicidade aos livros dos cardeais, não é isso… Mas fez-me tanto bem, tanto bem”, quis partilhar com quem o ouvia.

Patricia, de Buenos Aires, ouviu cada palavra de Francisco “com muita emoção, muita alegria”. Deste Papa, esta secretária que estava em São Pedro quando saiu fumo branco e, depois, quando Jorge Mario Bergoglio apareceu na varanda, já espera tudo: “Mudança, muitas mudanças, uma preocupação com os pobres, esta humildade. Que distribua toda esta riqueza…”.

Em Buenos Aires, onde tem toda a família menos o marido, italiano, Patricia conta que tantos esperam tudo isso e mais ainda. “A minha irmã, quando ouviu a notícia, estava no escritório. Contou-me que pegou nos papéis todos que tinha na secretária e os atirou ao ar…”, diz. “Ele é muito humilde, é in gamba, como ele disse”, acrescenta Patricia. “Que felicidade”

“Escolhi o nome do patrono de Itália, São Francisco de Assis, e isto reforça a minha ligação espiritual a esta terra”, afirmou Francisco, enquanto a multidão aplaudia. “Esta terra de onde, como sabem, são as origens da minha família. Mas Jesus chamou-me a fazer parte de uma nova família, a sua Igreja, nesta família de Deus caminhando juntos na via do Evangelho. Que o Senhor vos abençoe, que Nossa Senhora vos guarde, e não esqueçam isto: o Senhor nunca se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de lhe pedir perdão.”

Disse tudo, de uma vez só e numa só língua, o italiano, ao contrário do que manda a tradição. Depois, despediu-se: “Bom domingo e bom almoço”. Patricia deixou-se ficar mais umas horas na praça. Encontrou alguns argentinos que são adeptos do San Lorenzo, o clube de futebol de Bergoglio, e também ela se fez fotografar com a bandeira argentina e a faixa onde se lia: “Papa Francisco, Orgulho de San Lorenzo”.

No fim do Angelus, nem Patricia nem os outros peregrinos em São Pedro pareciam cansados. “Que felicidade ter um Papa assim, que se despede a dizer: 'Bom almoço'.”
 
 
 
 
 
 
 

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