Bolívia e Rússia assinam acordos nos domínios da energia e da cooperação militar

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Exploração de gás natural é um dos pontos fortes do acordo entre os dois países Alexander Natruskin/REUTERS

A Rússia e a Bolívia assinaram diversos acordos nos domínios da energia e da cooperação militar, os primeiros de grande alcance no quadro das relações bilaterais. O pacote de compromissos é o terceiro de vulto dos últimos meses entre Moscovo e os países da América Latina, onde Washington perdeu pé durante os mandatos de George W. Bush.

Os pactos foram acertados entre o Presidente boliviano, Evo Morales, na visita oficial de dois dias à Rússia, e o homólogo Dmitri Medvedev, que afirmaram que não são contra ninguém, numa alusão aos Estados Unidos – a deslocação no ano passado do líder russo à Venezuela e a que Hugo Chávez retribuiu foram acompanhadas de discursos semelhantes.

Medvedev explicou os acordos como “uma escolha consciente da Rússia”, que “não visa entrar em concorrência com quem quer que seja”. Morales sublinhou que os russos “estão ao lado” dos países latino-americanos e que as relações com os norte-americanos começam a mudar, desejando que o novo Presidente, Barack Obama, “mude de política”, em particular nas relações internacionais.

A Rússia vai contribuir para a exploração de novas jazidas de hidrocarbonetos e a construção de um novo gasoduto na Bolívia. A encarregada das obras será a gigante russa Gazprom, que deverá investir mil milhões de dólares no esforço, noticiou o diário russo Kommersant, citando fontes da empresa.

O acordo militar incide sobre o fornecimento de helicópteros a La Paz, mas não ficará por aqui: a lista de produtos deverá ser alargada no futuro.

As duas partes assinaram ainda um compromisso de cooperação na luta contra o narcotráfico. A Bolívia pôs fim há pouco às actividades da agência norte-americano contra o tráfico de droga (DEA).

Morales é o terceiro líder latino-americano a visitar oficialmente Moscovo nos últimos meses, depois do venezuelano Hugo Chávez e do cubano Raúl Castro, que firmaram pactos semelhantes. A sequência de deslocações seguiu-se à do Presidente russo à América Latina, em Novembro, quando vasos russos fizeram pela primeira vez em muitos anos manobras navais na região, de tradicional influência norte-americana.

Num encontro há dois meses com o governante do México, Felipe Calderón, o então futuro inquilino de Casa Branca, Barack Obama, disse querer abrir uma “nova página” nas relações entre os Estados Unidos e os vizinhos do Sul para ultrapassar as “tensões dos últimos anos”.

A BBC News referiu-se na altura a Hillary Clinton, que sucederia à secretária de Estado Condoleezza Rice, como uma pessoa com alguma experiência pelo menos para poder arrancar com o propósito: encontrou-se com a ex-Presidente da Nicarágua, Violeta Chamorro, em 1995, e do México, Ernesto Zedillo, em 1997, conheceu o argentino Carlos Menem e a chilena Michelle Bachelet, visitou 15 países latino-americanos e as pirâmides mexicanas, andou pelas ruínas maias guatemaltecas, apertou a mão a Pelé.

O pouco que se sabe das suas ideias da região é que acha, disse-o uma vez, que os Estados Unidos têm de estar “mais envolvidos” com a América Latina, a que atribui “muita importância”, que esteve a favor de vantagens alfandegárias aos países andinos, que se preocupa com a erradicação da droga, que durante as primárias democratas criticou os governos da Venezuela e de Cuba, e até Obama por estar disposto, afirmou, a reunir-se com ditadores sem “pré-condições” e que nunca simpatizou com um contrato de comércio livre com a Colômbia.

De qualquer modo não é a ela que cabe definir a nova orientação do país em relação aos vizinhos – é a Barack Obama.

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