Boko Haram retoma ofensiva e mata mais de 170 pessoas numa semana

Grupo islamista lançou vaga de ataques em resposta ao apelo à violência durante o Ramadão feito pelo Estado Islâmico. Presidente da Nigéria condena "acção desesperada" dos terroristas.

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Uma mãe e uma filha que o Exército nigeriano diz ter resgatado ao Boko Haram em Sambisa Afolabi Sotunde/Reuters

Pelo menos 13 pessoas morreram na sequência de duas explosões, uma num mercado de rua e outra num posto de controlo militar nos arredores da cidade de Maiduguri, no Norte da Nigéria, tudo indica que resultado de ataques suicidas levados a cabo por mulheres-bomba.

Mas além dessa acção concertada, nas últimas 48 horas foram reportados outros dois incidentes violentos envolvendo militantes do grupo islamista Boko Haram, que pode estar a cumprir uma ordem do auto-denominado Estado Islâmico (EI) para recrudescer a violência durante o mês sagrado do Ramadão. Fontes militares nigerianas disseram à Reuters que uma ofensiva dos extremistas na localidade de Kukawa, próxima do lago Chade, fez dezenas de mortes: “O número de vítimas pode ser muito elevado, se calhar centenas”, apontou.

Os relatos de residentes que escaparam ao ataque remetem para o modus-operandi repetidamente usado nos raides do Boko Haram, com os militantes a entrarem de rompante na localidade e atearem fogo a vários edifícios, entre os quais mesquitas. Informações avançadas às agências noticiosas referem que os islamistas reuniram os habitantes num único local e abriram fogo – alguns relatos dizem que se tratavam das pessoas que participavam nas orações nas mesquitas no momento do ataque, outros que entre as vítimas havia mulheres e crianças.

Segundo o Exército, dezenas de pessoas poderão ter sido atingidas a tiro; um habitante identificado pela Reuters como Bashir Ahmed disse ter encontrado 97 corpos carbonizados depois dos atacantes terem abandonado o local, que fica a 180 quilómetros da cidade de Maiduguri, a capital do estado de Borno. “Alguns moradores escondidos em árvores viram os militantes a enterrar minas em vários pontos da cidade”, informou um outro morador, Baana Kole, entrevistado pela AFP. “De certeza que há muitos cadáveres abandonados pela cidade; infelizmente não conseguimos chegar até eles”, lamentou.

Um outro incidente diz respeito a um possível ajuste de contas dentro do Boko Haram. De acordo com a Associated Press, o grupo degolou onze indivíduos descritos como “traidores” por terem tentado fugir ao recrutamento forçado ou procurado desvincular-se da organização – ambas as razões foram indicadas para justificar as mortes. O episódio aconteceu na cidade de Miringa: uma testemunha ocular, Muhammad Kimba, disse que os militantes andaram de porta em porta à procura dos suspeitos de terem desertado, que depois foram arrastados para um campo onde se fazem as orações ao final do dia no mês do Ramadão, antes da quebra do jejum.

Só esta semana, o número de vítimas do terrorismo na Nigéria já ultrapassa as 170. O Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, condenou os ataques “bárbaros e desumanos” dos militantes, que reputou de “actos desesperados”. Buhari, que tomou posse há um mês, renovou a sua promessa de intensificar a campanha militar para a erradicação do grupo extremista, que nos últimos seis anos matou mais de 13 mil pessoas e transformou mais de 1,5 milhões em refugiados.

Uma força regional composta por soldados dos países vizinhos Níger, Chade e Camarões apoia os esforços do Exército nigeriano no combate ao Boko Haram. Esses esforços levaram a um enfraquecimento do grupo islamista, que se viu forçado a bater em retirada e perdeu o domínio de várias localidades, nomeadamente de 17 sedes de governo regional. No entanto, esse território poderá não estar totalmente sob o controlo das forças governamentais – será agora terra de ninguém, um sinal da extrema vulnerabilidade e perigo a que estão expostas as populações na região Nordeste do país.

Expulsos do seu bastião na floresta de Sambisa – para onde teriam sido levadas as mais de 200 alunas raptadas no ano passado numa escola em Borno –, os jihadistas estarão agora dispersos em células mais reduzidas nas localidades mais próximas do lago Chade.

O contingente internacional deverá ser reforçado até ao fim do mês, com mais 8700 tropas, incluindo também do Benim. Esta sexta-feira, o Presidente Muhammad Buhari – que deslocou o centro de comando anti-terrorismo do Exército para o estado de Borno – defendeu que essa mobilização fosse apressada para responder à vaga de ataques do Ramadão.

Depois de um período de relativa acalmia, os militantes retomaram a sua campanha de terror, com atentados suicidas e ataques relâmpago. “A diminuição das iniciativas de contra-insurreição, aliada ao facto de essas acções continuarem limitadas exclusivamente ao território nigeriano, está a permitir ao Boko Haram reagrupar-se e mobilizar meios para uma nova ofensiva”, alertou Ryan Cummings, analista da consultora Red24 em declarações à AFP.
 

   

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