Boas ideias para enfrentar a crise

O discurso de Barack Obama sobre o estado da União, proferido no dia 13 de Fevereiro, suscitou inúmeros comentários positivos na Europa, tanto de líderes políticos como de meios de comunicação. Em geral, foi destacado o anúncio de um novo empenho nas negociações com a União Europeia para a criação de uma zona transatlântica de comércio livre, as quais se arrastam desde 2007. O impacto que tal acordo poderia ter na dinamização das economias europeia e norte-americana, com a consequente criação de novos empregos, justifica o entusiasmo com que o discurso de Obama foi recebido do lado de cá do Atlântico.

Há, porém, outras razões para sublinhar a importância desse discurso. Para os países da União Europeia, o discurso é ainda muito importante porque define todo um programa político de combate à crise económica e financeira que desde 2008 afeta tanto a Europa como os EUA. No seu discurso, Obama afirmou a importância da ação do Governo na dinamização da economia através de instrumentos modernos de regulação e de intervenção, enumerando medidas concretas de promoção do crescimento económico e de redução do desemprego e da pobreza.

Ao contrário da maioria dos líderes europeus, Obama afirmou com convicção que a resposta à crise não é menos Estado. A resposta à crise é Estado inteligente e eficiente na regulação dos mercados, na promoção do emprego, na redução das desigualdades, na criação de infraestruturas, na subida do salário mínimo, na promoção da qualificação das pessoas, na alteração do paradigma energético e no apoio à investigação e à criação de centros de inovação que permitam tornar mais atrativo o investimento na indústria.

No seu discurso, Obama apresentou as linhas gerais de um plano de intervenção estatal para impulsionar a economia, renovar a capacidade industrial dos EUA e criar emprego. Ou seja, o Presidente norte-americano considerou que o Estado pode contribuir para a solução dos principais problemas do país, que o Estado é parte da solução e não do problema.

O modo como foi abordada a questão do desemprego no discurso de Obama ilustra bem como este entende o papel do Estado. Considerando inaceitável uma taxa de desemprego de 7,8%, apresentou um vasto conjunto de medidas para promover a criação de empregos.

Em contraste, nos países de zona euro, onde a taxa de desemprego está já nos 11,7%, parece prevalecer o fatalismo. Em países sujeitos a programas de assistência financeira, onde o problema é ainda maior, como é o caso de Portugal, onde a taxa de desemprego atingiu já os 17%, os governos reagem como se estivéssemos simplesmente perante uma consequência natural dos programas de ajustamento, com a qual teríamos de nos habituar a viver, pois se considera que do lado das políticas públicas pouco ou nada se pode fazer.

Hoje em dia, parece, as boas ideias para enfrentar a crise económica e financeira têm vindo sobretudo dos EUA. É pena que, na Europa, tantos tenham ouvido apenas parte do discurso de Obama.

Maria de Lurdes Rodrigues é presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e professora de Políticas Públicas no ISCTE-iul. A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

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