Birmânia liberta quase sete mil prisioneiros

Amnistia inclui 155 chineses condenados a semana passada por abate ilegal de árvores e tráfico de madeira. Medida pode ser parte da estratégia política do Presidente, a caminho das legislativas de Novembro.

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Um dos libertados desta manhã, ao reunir-se com a família Ye Aung Thu/AFP

A Birmânia ordenou esta quinta-feira a libertação de milhares de prisioneiros, incluindo dezenas de lenhadores chineses, numa amnistia massiva, descrita pelas autoridades como um sinal de “boa vontade que visa manter relações amistosas com outros países”.

Às ordens do Presidente, Thein Sein, a Birmânia vai libertar 6966 detidos, 210 deles estrangeiros, por “bom comportamento”. Entre os libertados estão 155 chineses que tinham sido condenados a semana passada a longas penas de prisão, nalguns casos 20 anos, por abate ilegal de árvores e tráfico de madeira no Norte do país, perto da fronteira chinesa, diz um responsável do Ministério do Interior sob anonimato.

Segundo Kyaw Kyaw Oo, membro de um grupo de defesa dos prisioneiros políticos, estes chineses já foram libertados. O activista viu-os abandonar a prisão Myitkyina em cinco viaturas.

Os chineses foram presos em Janeiro, durante uma vaga de repressão contra lenhadores que trabalham sem autorização no Norte, na mesma região onde um conflito opõe Exército e rebeldes, com os dois lados a serem acusados de explorarem ilegalmente os recursos naturais que vendem a empresas chinesas.

Num comunicado, o porta-voz chinês do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hong Lei, disse que Pequim “está muito atento às medidas pertinentes tomadas pela Birmânia” e confirmou que os lenhadores serão repatriados para a China na sexta-feira. A condenação destes homens tinha sido recebida com indignação pelos media de Estado chineses, e o regime pedira aos birmaneses para serem “razoáveis”, num momento em que as relações entre os dois países são cada vez mais tensas.

Agora, com o anúncio da libertação dos chineses, foram os birmaneses a usar as redes sociais para acusar o seu país de ter medo da China.

O que falta perceber sobre esta amnistia é se inclui prisioneiros políticos. Amnistias anteriores decididas desde o fim do poder da junta militar por trás do golpe de Estado de 1989 e da tomada de posse do actual Governo, quase-civil, em 2010, já devolveram a liberdade a muitos dissidentes.

A abertura do país traduziu-se pela amnistia de milhares de presos políticos e pela entrada no Parlamento do partido da opositora e Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, que viveu 15 anos em prisão domiciliária.

Esta ainda pequena revolução já permitiu que fossem levantadas a maior parte das sanções económicas e políticas que os países ocidentais tinham imposto ao país. Em Novembro estão previstas eleições legislativas, que serão o grande teste aos avanços democráticos de uma nação que até 2011 era uma das mais fechadas do mundo.

A ida às urnas é especialmente importante porque o regime está a ser acusado de recuar em muitas medidas, endurecendo as suas posições; nos últimos meses, centenas de activistas e manifestantes foram presos e a liberdade de imprensa continua por respeitar.

Esta nova amnistia pode ser, por isso, apenas parte da estratégica política Thein Sein, que antes de ser chefe de Estado foi primeiro-ministro da junta militar.

A ditadura militar birmanesa contou sempre com a China como aliado político e parceiro comercial privilegiado. Em troca, as empresas chinesas estão muito bem implantadas na Birmânia, onde exploram os grandes recursos mineiros, hidráulicos e florestais do país, desencadeando muitas vezes a cólera da população birmanesa.

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