Bélgica procura cúmplice do fugitivo de Paris e captura novo suspeito

Agitam-se as águas da investigação aos atentados de Paris. França confirma que jihadistas abatidos em Saint-Denis estavam a preparar um novo ataque e Bélgica anuncia ter capturado um novo suspeito de terrorismo.

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Fotografia de Mohamed Abrini divulgada pela polícia. A Bélgica espera que Abrini dê pistas sobre o paradeiro de Salah. Polícia Federal da Bélgica/AFP

Salah Abdeslam está ainda em fuga e a Bélgica lançou-se nesta terça-feira numa nova caça ao homem. Bruxelas anunciou um mandado internacional de captura para Mohamed Abrini, de 30 anos, avistado dois dias antes dos atentados na capital francesa com Salah no mesmo carro que o presumível atacante de Paris usou para transportar três bombistas suicidas ao Estádio de França. Capturar Abrini poderá levar ao rasto de Salah, que todos os dias desperta rumores sobre a sua captura – nesta terça-feira, a Alemanha fez uma grande operação de perseguição a um carro em fuga que se concluiu depois não ter quaisquer ligações com o francês. Tal como ele, também Abrini é considerado “perigoso e provavelmente armado”.

Não é o único avanço neste eixo da investigação aos ataques em Paris. A Justiça belga acredita que um dos homens capturados nas operações antiterrorismo dos últimos dias cometeu “homicídios” e participou em “actividades de um grupo terrorista”. O suspeito, cuja identidade não foi divulgada, foi formalmente acusado nesta terça-feira. Como tem sido habitual, o gabinete do procurador federal limitou-se a dar o mínimo possível de informação aos jornalistas, não adiantando por isso se este novo arguido – o segundo a ser acusado de actividades terroristas no país em apenas dois dias – esteve envolvido nos atentados. Também nada avançou de novo sobre um outro homem que acusou na segunda-feira de ter cometido um “ataque terrorista”.

Esta é a quinta pessoa capturada na Bélgica depois dos atentados de Paris a ser acusada de participar em actividades terroristas. Acontece o mesmo com os dois homens que foram buscar Salah à capital francesa e o conduziram a Bruxelas poucas horas depois dos ataques. E com um outro suspeito, também não identificado, que se pensa que lhe poderá ter dado abrigo.

Do outro lado da fronteira, a França avança os seus próprios frutos da investigação. O suposto orquestrador dos atentados abatido pela polícia em Saint-Denis, Abdelhamid Abaaoud, tinha agendado um novo ataque terrorista em Paris para os dias 18 ou 19 de Dezembro, segundo anunciou o procurador de Paris. Este atentado seria executado no distrito comercial de La Défense, em conjunto com o homem que se fez explodir no mesmo apartamento de Abaaoud no assalto policial de há uma semana – foi incorrectamente noticiado então que a bomba fora detonada por uma prima do jihadista belga que estava no edifício e que morreu também na operação.

Esta suspeita já fora avançada na imprensa francesa no momento da grande operação em Saint-Denis, mas só agora é confirmada oficialmente. O bombista que ajudaria Abaaoud no novo ataque ainda não foi identificado, dado o estado do seu corpo. Mas pensa-se que este homem foi um dos jihadistas que atacou os bares e restaurantes no 10º e 11º bairros de Paris e a mesma pessoa que mais tarde avistada no metro com Abaaoud. O homem que arrendou o apartamento de Saint-Denis aos jihadistas, Jawad Bendaoud, foi ouvido por um juiz nesta terça-feira e posto em prisão preventiva. Diz não conhecer nenhum dos inquilinos.

Regresso à normalidade
Bruxelas regressa lentamente à normalidade. Ao quarto dia em alerta de segurança máximo, grandes patrulhas armadas, escolas e metro fechados, começaram finalmente a abrir alguns museus e lojas encerrados desde o fim-de-semana. Ainda são poucos os clientes e visitantes. Como continuam a ser poucas as pessoas nos espaços históricos da capital – há lá mais câmaras de televisão do que militares e turistas, como escreve o correspondente do Wall Street Journal. Em todo o caso, para cada rua vazia parecia haver uma outra que recomeçava o ritmo normal. E a chuva que caía nesta terça-feira ajudou a dar um ar de normalidade a uma capital europeia em parte ainda imobilizada pelo medo de que uma célula jihadista esteja a preparar um atentado para os próximos dias.

Polícia e Governo continuam a acreditar que é esse o caso. Foi por isso que o primeiro-ministro belga decidiu manter no nível máximo o alerta de segurança na capital pelo menos até à próxima segunda-feira. Há o receio de que as grandes operações policiais dos últimos dias precipitem alguma célula jihadista a passar à acção antes do tempo e a lançar um atentado semelhante ao de Paris, evitando assim a captura. Temem também que o ataque venha da parte do fugitivo Salah, que pode estar ainda no país e que até agora tem sido representado na Bélgica e em França como a grande ameaça em suspenso.

Em todo o caso, começa a modificar-se a imagem de Salah como o jihadista que espera na escuridão por uma oportunidade para um novo atentado. Na segunda-feira, a polícia francesa encontrou no lixo um colete de explosivos semelhante aos que foram usados pelos terroristas que se fizeram explodir na noite dos ataques. Tudo indica que tenha pertencido a Salah, uma vez que foi encontrado no mesmo bairro parisiense em que o seu telemóvel deu sinal pela última vez, Montrouge. A confirmar-se, ganha força a tese de que o francês nascido na Bélgica hesitou no último momento e não foi por diante com o ataque que lhe fora atribuído. Este aconteceria provavelmente no 18º bairro de Paris, onde foi encontrado um dos dois carros que alugou. O mesmo em que foi visto com o novo fugitivo: um Renault Clio negro. 

Escolas e metro de Bruxelas reabrem nesta quarta-feira ainda em alerta máximo – ao resto do país aplica-se o segundo nível mais grave –, mas não sem prevenção. O Governo destacou 300 agentes da polícia para patrulharem escolas e outros 200 para fazerem a segurança no metro de Bruxelas. Será um passo cauteloso no sentido da normalidade, como vivamente disse um dos presidentes de Câmara de Bruxelas, recusando-se a cancelar um mercado de Natal na cidade. “Não podemos continuar a viver nestas condições”, afirmou Yvan Mayeur, "não viveremos num regime islamista”. “Não desejo um regresso demasiado rápido à normalidade, mas não quero também que nos precipitemos para um regime que não é nosso.”

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