Barroso recebido em Lampedusa com gritos de “assassino”

Presidente da CE diz que Europa não pode "voltar a cara". Itália vai receber 30 milhões de euros para ajuda aos imigrantes.

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Durão Barroso recebido em Lampedusa com gritos de “assassino” REUTERS

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, foi recebido nesta quarta-feira na ilha de Lampedusa com insultos e gritos de “assassinos”.

Barroso está a visitar a ilha a convite do primeiro-ministro italiano, Enrico Letta. Uma pequena multidão esperava os dois governantes, que foram recebidos com gritos de "assassinos".

A comitiva, onde seguia também a comissária europeia do Interior, Cecilia Malmström, foi insultada durante todo o percurso entre o aeroporto da ilha e o lugar onde estão os corpos de 289 mortos na tragédia da semana passada, que foi o primeiro ponto da visita. Letta anunciou que os mortos terão funeral de Estado.

"A Europa está com os habitantes de Lampedusa. O problema de um dos nossos países, como Itália, deve ser entendido como um problema de toda a Europa", disse o presidente da Comissão Europeia no fim da visita de três horas. "A Comissão está convicta de que a União Europeia não pode aceitar que milhares de pessoas morram nas suas fronteiras. O desafio de Lampedusa e da Itália é um desafio europeu", disse Barroso, acrescentando que as imagens dos caixões vão ficar marcados "para sempre" na sua mente.

Cecilia Malmström anunciou que a UE vai destinar 30 milhões de euros suplementares a Itália para um fundo destinado a lidar com este fluxo de pessoas, mas sublinhou que "muito mais deveria ser feito". Na véspera da visita, Malmström   defendera que a UE deve iniciar uma vasta operação de "segurança e salvamento" no Mediterrâneo. Os Estados-membros, disse, devem fornecer navios e aviões para esta operação, além de garantirem os fundos que serão necessários.

Em matéria de asilo, os responsáveis têm falado na necessidade de se alterar o acordo de Dublin, que diz que são os países de acolhimento que têm de lidar com "o problema" — os países do Norte da Europa rejeitam estas alterações.

Na ilha de seis mil habitantes, a tensão está à flor da pele, diz a AFP. A presidente da câmara, Giusi Nicolini, considerou que esta visita era "indispensável" para os responsáveis europeus e italianos verem a "imensa tragédia" que ali se vive. "Penso que os governantes italianos deviam pedir desculpas às crianças e aos sobreviventes pela forma como o nosso país trabalha. Só depois poderemos exigir que a Europa cumpra as suas responsabilidades", disse Nicolini.

Os imigrantes têm exigido ser transferidos para lugares com melhores condições, mas o Governo italiano tem-nos mantido na ilha. "É insustentável. No centro de acolhimento, as condições são inaceitáveis, é uma vergonha, há tantas crianças. Tentamos ajudar, mas não temos meios", disse um habitante que se manifestou junto ao pequeno aeroporto da ilha.

A seguir à visita a Lampedusa, Durão Barroso foi a Môle Favarolo (uma base aeronáutica da guarda civil), onde falou com responsáveis da guarda-costeira (que, por lei, não pode ajudar, levando para bordo, por exemplo, imigrantes em dificuldades), representantes de organizações não-governamentais e um grupo de refugiados.
 

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