Banco de Inglaterra faz plano para a saída da UE

Mensagem sobre investigação secreta de possíveis efeitos de saída da União Europeia foi revelada num e-mail enviado por engano a um jornalista.

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Os trabalhistas exigiram que Osborne vá ao Parlamento explicar o plano Toby Melville/AFP

A investigação de uma equipa do Banco de Inglaterra (BdI) sobre potenciais efeitos de uma saída do Reino Unido da União Europeia foi acidentalmente revelada quando um email foi enviado ao diário The Guardian.

O email foi enviado pelo secretário pessoal de Jon Cunliffe, subdirector para a estabilidade financeira do BdI, a quatro altos responsáveis do banco, e depois reenviado por engano a um jornalista do Guardian. Na mensagem, era dada conta da existência da equipa e da investigação secreta, e eram dadas indicações sobre como lidar com perguntas da imprensa sobre esta questão.

A task force é constituída por um pequeno grupo de altos responsáveis e o seu trabalho deveria permanecer secreto mesmo dentro da instituição, diz a mensagem de email.

A revelação já levou o Banco a confirmar oficialmente a equipa e a investigação, dizendo que “há uma série de questões económicas e financeiras que surgem no contexto” de um referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia – que o primeiro-ministro, David Cameron, prometeu levar a cabo antes de 2017 caso vencesse as eleições de 7 de Maio. “É uma das responsabilidades do banco avaliar as [questões] que têm a ver com os seus objectivos”.

O Banco de Inglaterra, cujo governador, Mark Carney, tinha prometido mais transparência no processo de tomada de decisões, acrescentou que não irá falar desta avaliação para já mas irá dar detalhes “na altura apropriada”. Foi assim, acrescentou, que fez quando se tratou da avaliação de uma potencial cisão da Escócia depois do referendo do ano passado. “Ainda que seja infeliz que esta informação tenha entrado no domínio público deste modo, o Banco irá manter esta abordagem”, dizia um comunicado da instituição.

O facto de o Banco não querer ser visto como participante num debate político tão polarizado deverá ter levado a este secretismo. Mas o comunicado acrescentava que “não deveria ser surpresa que o Banco está a levar a cabo este trabalho sobre uma política do Governo”.

No Parlamento, deverá haver agora perguntas, antecipa o Guardian, sobre se o Banco pretendia informar os deputados desta iniciativa. Os trabalhistas, na oposição, pediram já ao ministro das Finanças, George Osborne, para revelar o que sabe sobre este projecto. 

A informação surge quando a potencial Brexit (british exit; saída britânica) rivaliza com a Grexit no centro das atenções em Bruxelas. Embora o assunto não tenha sido abordado, foi David Cameron quem dominou as atenções na cimeira de líderes europeus de sexta-feira em Riga, e na véspera o primeiro-ministro falou das condições que gostaria de ver para que o seu país se mantivesse na União, dizendo que era essencial o corte de benefícios a cidadãos dos outros 27 países que queiram ir trabalhar no Reino Unido, o que choca com as regras de livre circulação da UE. A semana vai arrancar com uma série de reuniões começando com uma ida do presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, a Londres, onde se encontrará com Cameron.

Muitos líderes de empresas têm expressado medos de que uma saída dificulte as exportações e as consequências potencialmente desastrosas para a City de Londres como centro financeiro.

O gestor de fundos Neil Woodford disse que apenas a promessa do referendo já era suficiente para levar a uma diminuição do investimento internacional no país, e o presidente executivo do grupo JLL criticou o período de incerteza até ao referendo “que poderá afectar decisões de líderes quando à dimensão e localização das suas sedes na Europa”, lembra o jornal britânico The Telegraph.

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